O tema central deste blog é política e cidadania. Mas ninguém é de ferro. Por isso, tenho sempre colocado posts de outros assuntos, principalmente artes, para dar um respiro para mim e para quem lê. Também pretendo colocar uma crônica por domingo, começando hoje. Internet tem dessas vantagens: quem não quiser ler, é só passar para o próximo post. O texto de hoje saiu na seção Peteca, do Viver Bem, na Gazeta do Povo deste domingo.
Dia desses, troquei uma lâmpada no banheiro de casa. Nada demais: poucas coisas são tão fáceis quanto trocar uma lâmpada, certo? Pois é. Descobri, algumas horas mais tarde que eu tinha feito alguma coisa errada. A Rosiane, minha mulher, me ligou no jornal às dez da noite avisando que a luminária do banheiro tinha despencado. Causou um curto-circuito que queimou a lâmpada e fez um tremendo barulho. Depois disso, a casa ficou sem luz.
Conto isso para mostrar que não sou nenhum gênio, muito pelo contrário. Mas mesmo um cara que não consegue trocar uma lâmpada direito pode ter seus talentos ocultos. Um dos meus talentos se revelou depois de 30 anos sobre essa terra: sei escolher cachorro como ninguém. Sou absolutamente insuspeito para falar disso. Como muita gente, já torci o nariz para bichos de estimação. Durante muito tempo, achei cachorro um bicho meio esquisito e não entendia como alguém podia gostar daquilo.
Até hoje, na verdade, tenho um problema com cachorros grandes. Mas nesse caso, o problema é outro: medo, pânico, paúra. Antes, tinha medo até dos pequenos. Já cheguei a dar um grito no meio da rua só porque um guapeca pequenininho chegou muito perto de mim. O grito saiu sem querer, passei vexame e ainda tive que pedir desculpas para a freira que passava perto e se assustou com o meu chilique.
Mas isso mudou. Primeiro, minha sobrinha e a mulher do meu irmão tinham arranjado uns cachorros que eu achava simpáticos. E aí veio o Pancho. Foi assim: um dia, recebi um e-mail com a foto dele tomando banho. Estava disponível para adoção. Tinha sido maltratado, uma das patas tinha um defeito, mas parecia joinha. A Rosiane, que ama cachorros, estava enfrentando uma barra pesadíssima (luto na família). E pensei: “Vá lá, vamos ver no que dá”. Queria colocar um monte de regras e restrições. E na primeira noite já fui eu que insisti para ele dormir com a gente.
No começo, admito, o bichinho parecia meio troncho. Não sabia nem andar na coleira, fazia xixi em tudo que era lugar da casa, um horror. Depois, virou da família. Criamos uma série de lendas sobre ele. Que é um revolucionário mexicano – eis o porquê do nome. Que é um justiceiro mascarado – e realmente parece que tem uma máscara escura sobre o focinho dele. Que ele se esconde embaixo da cama não por medo, mas para escrever um livro.
Sei que é meio patético ficar falando de coisas que deixam a gente bobo. Talvez alguém olhe o Pancho Eugênio Carlos – sim, esse é o nome inteiro dele – e enxergue só uma mistura de basset com vira-lata. Para mim, é um cachorro revolucionário. E às vezes até me pego desistindo de um convite ou voltando rapidinho para casa só para não deixar ele muito tempo sozinho. Até um blog para ele a gente criou. Vejam lá: diariodopancho.blogspot.com
E valeu a pena investir nele. Embora ele não saiba fazer nenhum truque, nem nada parecido. Na verdade, ele sabe exatamente como fazer o essencial. Quer ver? No dia em que eu dei curto-circuito na casa toda e a Rosiane teve que ficar no escuro esperando eu voltar do jornal, quem foi que ficou fazendo companhia para ela? Isso mesmo. Foi o Pancho. O grande Pancho.