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Texto publicado originalmente em março de 2015:

Muita gente tem comparado a atual situação do país com a de 1992. Claro: nos dois momentos falou-se em impeachment. E pode haver mais semelhanças, claro, de acordo com a profundidade da escavação que se fizer. Mas há pelo menos uma diferença que é preciso levar em conta ao pensar nas consequências de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.

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Fernando Collor foi o último presidente a ser eleito para o cargo no Brasil sem o respaldo de qualquer grande partido. Sua sigla era o modestíssimo PRN, que mais parecia uma invenção apressada para gestar sua candidatura do que uma legenda séria, com história e militância. Para lá migraram alguns acólitos do presidente. Mas dificilmente podia ser identificada uma militância histórica do PRN.

Collor, pessoalmente, também não era o típico homem carismático levado à presidência por multidões que aderiram a seu projeto. Governador de um pequeno estado, fez-se presidente em um momento de transição em que pesou mais a hostilidade contra outros líderes populares (Lula, Brizola, Maluf). Fez-se presidente em razão da boa aparência, do discurso fácil, do populismo bem aceito, usando um discurso de bom mocismo e se contrapondo àquilo que mais tarde se chamaria de “Risco Lula”.

Não havia uma massa fascinada por Collor. E, depois dos primeiros atos do governo, especialmente do confisco da poupança, a popularidade do presidente ficou ainda mais abalada. Collor também não soube articular com o Congresso. Na época em que começaram as denúncias de irregularidades, ele estava longe de ser um sujeito amparado em forças populares ou mesmo em forças políticas. Estava sozinho.

Quando chegou a hora do impeachment, Collor estava sozinho. Chegou, pateticamente, a pedir que não o deixassem só. Não foi ouvido por ninguém. Quando caiu, ninguém lamentou. Não havia ninguém a seu lado tentando impedir sua queda. Seu pedido para que as pessoas fossem às ruas de verde e amarelo tinha não só caído no vazio como provocou ainda mais a ira dos brasileiros.

O caso de Dilma é radical mente diferente. A presidente, é verdade, não é uma líder carismática. Mas tem a seu lado um partido forte, o PT, e uma multidão de forças que tradicionalmente apoia o petismo. Sindicatos, a CUT, o MST, movimentos sociais em geral contam entre esses. E além da própria militância petista urbana, articulada nas ruas e nas redes sociais.

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O ponto é que, ao contrário de Collor, a chance de o atual governo cair sem defensores é nula. E isso não só torna mais difícil a queda como pode tornar mais traumático o possível pós-queda. Porque, quando Itamar governou, não havia nas ruas multidões pró-Collor tentando reconduzir o presidente ou contestando a legitimidade do sucessor. Agora, imaginem o petismo nas ruas, após um impeachment, questionando a possibilidade de uma eleição de um tucano.

Não são dias fáceis, os que virão…

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