É impossível ler sobre certos temas da história mundial sem fazer a pergunta: “Mas como as pessoas que viviam naquela época não fizeram nada para impedir isso?”
Há casos em que essas perguntas são clássicas. Pense no Holocausto dos judeus durante o nazismo. Ou na grande fome provocada pelo stalinismo.
Por mais que fosse difícil enfrentar Hitler ou Stálin, por mais que talvez não pudessem fazer nada sobre o assunto, é difícil imaginar como as pessoas que sabiam daquilo conseguiam simplesmente ir dormir tranquilas.
Daqui a algum tempo, certamente haverá quem faça as mesmas perguntas sobre o nosso dia a dia. Como podiam? como podiam conviver com a violência contra a mulher? Com a pobreza extrema? As favelas?
E como podiam conviver com a ideia de que fora de cada grande cidade havia prisões que eram verdadeiros infernos. Que serviam basicamente para pegar pessoas que tinham cometido um crime e transformá-las em pessoas piores?
É claro que parte da crueldade que nos assusta no Holocausto ou na fome pode não estar presente aqui. As vítimas do antissemitismo e da pobreza absoluta não fizeram nada para merecer o seu destino. No caso da cadeia, estamos falando em criminosos (supondo que não tenha havido erro no julgamento – e supondo, erradamente, que todos tivessem sido julgados).
O massacre do Amazonas fez surgir vários comentários de gente horrorizada com a situação. Sinal de que nosso mundo não está de todo perdido. Mas fez surgir uma infinidade de comentários absurdos.
Gente fazendo contas para saber quanto se economiza com o extermínio das dezenas de detentos – R$ 2,4 mil a menos por preso por mês. Gente dizendo que ali não havia santo (o governador do estado!). E até jornalistas publicando a lista dos crimes de cada um para dizer que não devíamos indenizar as famílias (de quem morreu sob custódia do Estado).
Não é preciso crer na bondade original das pessoas. Nem é preciso crer que a sociedade teve alguma cujlpa na má conduta de alguém. Não é preciso acreditar em qualquer ideologia.
Para saber que isso está errado basta não ter jogado a humanidade na lata de lixo. E basta crer, pelo menos, em democracia. Em Estado de Direito. Basta não ser partidário de violência como meio de vingança.
E mesmo que você não acredite em nada disso, que ache que isso tudo de democracia, de direitos humanos é uma baboseira. Que ache que criminoso precisa pagar da maneira mais dura possível pelo que fez. Mesmo assim fazer o que estamos fazendo é uma burrice.
Manter presídios cheios, superlotados. Sem controle mínimo com o que acontece. Em que as celas se tornam instrumento de dominação dos mais fortes. Em que os pátios se tornam lugar de combinações de facções. Em que o Estado perde o controle e a punição, que deveria ser de privaçãod e liberdade, passa a ser a de viver em um inferno.
Tudo isso tem uma única consequência: o fortalecimento de grupos criminosos que passam a controlar a vida de cada vez mais gente, que conseguem recrutar presos com um simples auxílio à família, e que colocam você e a sua família ainda mais em risco.
Porque essas pessoas vão sair da cadeia. E vão obedecer ao PCC, ao CV, à ADA, a outras facções. E você vai estar ainda mais exposto ao crime e à violência.
Defender que as cadeias sejam infernos é jogar a todos nós no fogo. Ou, como diz a frase famosa: a cadeia é um meio caro de fazer as pessoas se tornarem piores.
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