Da coluna Caixa Zero, publicada neste domingo, na Gazeta do Povo:

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Conta a história que Abraham Lincoln nunca havia usado barba até 1860, pouco antes de concorrer à presidência dos Estados Unidos. Mudou de ideia depois de receber a carta de uma menina de 11 anos. Ela pedia desculpas por estar se metendo na vida de “tão grande homem” mas sugeria que, se Lincoln quisesse ser presidente, devia deixar as costeletas. O motivo era simples. As mulheres gostavam de homens com costeletas. Se Lincoln deixasse de raspar o rosto, elas insistiriam para que os maridos votassem nele.

Lincoln seguiu o conselho. Impossível saber se sem a barba Lincoln seria eleito – nunca dá para saber quais fatores decidem uma eleição. Em 2008, por exemplo, estudiosas norte-americanas garantiam que desde a chegada da tevê colorida as eleições presidenciais dos EUA sempre eram vencidas por homens de olhos azuis. Obama desmentiu a tese.

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Apesar das incertezas, há apostas mais confiáveis do que outras. Por exemplo: jogar as fichas no erro do adversário parece pouco produtivo no Brasil. O PT é o maior exemplo disso em anos recentes. Em 1989, Lula foi candidato a presidente com um discurso de crítica ao poder constituído. Fez o mesmo em 94 e 98 e ficou sempre em segundo lugar. Em 2002, virou o “Lulinha paz e amor”. Escreveu a Carta aos Brasileiros garantindo que não haveria radicalismos e chegou à Presidência.

Desde então, o PSDB se viu na oposição. E se transformou numa espécie de PT dos anos 80. Passou a questionar todo o modelo implantado pelos petistas. Ora acusando o partido de copiar ideias alheias, ora de promover bandalheira, ora de perder conquistas consolidadas. Agora, parece que ganharam um motivo a mais para usar artilharia pesada: afinal, não é todo dia que o seu principal adversário político vive sob a sombra de uma possível condenação judicial por corrupção.

Se os tucanos pretendem apostar no mensalão como argumento eleitoral, porém, tudo indica que darão com os burros n’água novamente. O PSDB poderia aprender uma lição com os petistas, que afinal de contas parecem ter criado uma máquina de faturar eleições. A lição vem de 2010. Nuvens de palavras feitas a partir dos discursos mostravam que na tevê o oposicionista José Serra usava o tempo todo a palavra “continuidade”.

Era um discurso menos raivoso. O PSDB entendeu que era preciso admitir algum avanço trazido por Lula, já que o homem batia recordes de popularidade. Mas o que o mesmo estudo mostrava era que Dilma, num lance inteligente, tinha como marca a palavra “mudança”, mesmo sendo a candidata da situação. O PT havia descoberto que, por um lado, o discurso da raiva só faz a eleição girar em torno do adversário. Por outro, ninguém nunca está totalmente satisfeito com as coisas. Por isso, era preciso “aprofundar as mudanças”. E o que passou a significar a continuidade prometida pelo PSDB? Estagnação, talvez.

Dilma se prepara para a eleição do ano que vem com medidas que prometem aprofundar a tal mudança, como o Mais Médicos. Se o PSDB decidir centrar fogo no mensalão, soará talvez como o Lula de 1989, que quer guerra quando o povo quer é paz, serviço público funcionando e alguma garantia de que as coisas boas não se perderão. Nesse sentido, Marina Silva parece ameaçar muito mais a reeleição de Dilma. Ela jamais usa o PT como centro do que fala. Se o PSDB não escrever sua Carta aos Brasileiros, acaba a eleição de 2014 em terceiro lugar.

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