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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Estranho começar uma coluna de política falando de uma comédia romântica, mas lá vai: no filme “Mensagem para Você”, a personagem de Meg Ryan diz que não entende porque os homens sempre citam trechos de “O Poderoso Chefão” para explicar as coisas. A resposta, segundo o personagem de Tom Hanks, é que o filme (assim como o livro) é uma espécie de I-Ching, com respostas para tudo. Quando se fala de política, nada mais verdadeiro: trata-se de um belo estudo sobre poder e força bruta.

Pois bem, eis que chegamos à campanha. Neste momento, todo mundo está tentando adivinhar o que é que Marina tem. De uma hora para outra, a candidata do PSB virou uma epidemia – algo que nem o antigo candidato do partido, Eduardo Campos, conseguia. E um palpite possível é o de que ela não é vista como uma pezzonovanta. A expressão aparece, tanto no livro de Mario Puzo quanto no filme de Coppola, sem tradução, no italiano.

A cena mais famosa em que a palavra é citada acontece perto da morte de Vito Corleone (Marlon Brando). Ele está passando o poder oficialmente para o filho de que mais gosta, Michael (Al Pacino), mas diz que não queria ter de fazer isso. O sonho dele era ter feito todo o trabalho sujo para que Michael pudesse começar a vida já e outro nível. Sem se meter em violência. E, quem sabe, virar o senador Corleone, o governador Corleone. Michael diz que não queria isso, não queria ser mais um pezzonovanta.

O sentido em português é o de um figurão. Alguém que tem poder não pela força própria, mas porque se apoia em uma estrutura que herdou. Pode ser um oligarca; pode ser um poderoso qualquer. E, para os Corleone, ninguém era visto com mais desprezo.

Lula, em 2002, era o protótipo do sujeito que se fez sozinho. Operário, era o candidato contra o “sistema”. Dilma, em 2010, como mulher, também se encaixava bem no papel da candidata de fora que quer enfrentar os poderosos. O PT, na verdade, por 12 anos vem usando o discurso de que, embora no governo, é de oposição: oposição aos “verdadeiros poderosos”, que antes impediriam o crescimento do país. (Curiosidade: Requião disse exatamente a mesma coisa em um depoimento ao livro “Governadores do Paraná”: mesmo no governo, se sentia de oposição).

Hoje, Dilma dificilmente poderá se manter no papel de pessoa comum lutando contra o establishment. Herdeira do gigante político que Lula se tornou, é a comandante do país. Aécio e Eduardo Campos são a própria figura do pezzonovanta no imaginário popular. Herdeiros de oligarquias estaduais, governadores, ricos. Marina, assim, dos candidatos vistos como viáveis, é a única que o sujeito comum ainda pode ver e identificar como “um de nós”. Ex-doméstica, mulher, de pele escura, com sua aparência frágil, não parece o típico poderoso. Desertora do governo Lula no momento mesmo em que ele se tornava “parte do sistema”, ainda pode se dizer algo sonhadora. E colou. Ela, como já se disse na Papuda, é o novo Lula, só que de saias.

O que Dilma e Aécio podem fazer para combater Marina? Talvez a resposta esteja no Poderoso Chefão também. Um exemplo: “Nunca odeie seus inimigos; atrapalha o raciocínio.” Basta abrir o livro como se fosse um manual de política. Não é lá muito científico, mas às vezes ajuda a gente a entender as coisas.

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