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O que está em jogo não é a Copa. É o nosso pescoço

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Alguém disse ontem na internet, comentando a barbárie ocorrida em Joinville, durante Atlético-PR e Vasco, que não devíamos nos preocupar se o Brasil tem condições de ser sede da Copa do Mundo. Aparentemente, dizia a mensagem, o Brasil não tem condições é de ser sede do Campeonato Brasileiro. Três caras em coma. Selvageria. Imagens repulsivas. E, não bastasse tudo isso, há ainda a impressão de que já vimos tudo isso e que veremos novamente em breve.

Há quem goste de explicações culturais para isso. O Brasil é assim mesmo. Ou o futebol é assim mesmo. É assim que se comportam as multidões. Qualquer estudo sócio-antropológico é bem-vindo para ajudar a explicar por que ainda não vencemos definitivamente os neandertais. Mas parece que vai se criando um consenso sobre o problema real a ser enfrentado. Não é a cultura da violência. É a cultura da impunidade.

Se os indivíduos que fizeram barbaridades semelhantes em jogos anteriores estivessem na cadeia, a coisa seria diferente. Sempre é preciso lembrar a mesma frase: é a certeza da punição que faz o sujeito desistir de cometer o crime. Aqui, a certeza (ou quase isso) é a de que nada ocorrerá com quem quebrar o pescoço alheio, ainda que isso seja feito diante de câmeras de tevê, diante de todo o país. Ontem, pegaram três torcedores e os prenderam. Serão soltos? Cumprirão pena? Conseguiremos impedir que riam de nós já na semana que vem?

A polícia diz que o trabalho de identificar os quadrúpedes é difícil. Quando os localiza, há empecilhos jurídicos e os bufões continuam soltos e frequentando estádios. Ora, se não somos capazes de identificar alguém que aparece na tela da tevê como combateremos os crimes que são cometidos em lugares escondidos? Pegue-se o sujeito no ato, na hora, na saída do estádio ou antes disso. E pegue-se sempre. E dê-se um jeito de puni-lo. Se isso for impossível, será impossível no país não só o futebol, mas a convivência.

Não é a Copa que está em jogo, senhores. Nem as torcidas organizadas. Nem nossa imagem no exterior. É a cabeça e o pescoço de cada um de nós. Se o sujeito vê que nem o crime mais visível do planeta é punido com eficiência, matará na periferia ou longe dela sem medo de ser preso. Se nem o óbvio for (sempre, e todas as vezes) punido, a barbárie tenderá a prevalecer. Copa do Mundo? O Brasil não está pronto é para sediar o Brasil.

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