A chegada do PT ao poder fez com que, aos poucos, surgisse uma nova direita no Brasil – uma direita que não tem vergonha de dizer seu nome e que, com o tempo, se tornou cada vez mais combativa. Com as denúncias de corrupção, o processo de impeachment e a derrocada do petismo, esses grupos ganharam ainda mais força.
Além dos “neoconservadores”, surgiram também os novos liberais. Liberalismo é uma palavra que pode ser usada de vários modos. Mas esses grupos se dizem liberais no sentido econômico. Adoram Ludwig von Mises, citam Hayek e têm uma paixão nada secreta por Milton Friedman.
No processo de impeachment, esses grupos foram mostrando uma face cada vez mais radical. Não só no antipetismo, mas também no combate a qualquer proposta que tivesse o mais leve odor de esquerdismo. Qualquer menção a Estado de bem-estar social passou a ser vista como equivalente de marxismo. Falácias do tipo mais básico surgiram: se você defende algum grau de intervenção do Estado além do mínimo, você está à beira do stalinismo.
Em certos momentos, o radicalismo ficava mais evidente. Os flertes com o autoritarismo ficavam claros não apenas em cartazes (nem tão esparsos quanto se dizia) pedindo intervenção militar. Mesmo entre os que repudiavam a ruptura institucional, havia grosserias típicas do autoritarismo, como ficou óbvio em vários episódios: professores ameaçados de surras, médicos deixando de atender crianças filhos de petistas, militantes chutando carros…
Agora, a todo momento se vê que o liberalismo econômico defendido por muitos militantes da nova onda passa longe da defesa de um liberalismo político – pelo contrário, passa a representar a defesa do autoritarismo, do preconceito, da repulsa ao diferente. Basta ver a posição que certos “liberais” assumem na eleição americana.
A defesa de Donald Trump é impossível para qualquer um que tenha qualquer apreço à democracia, aos direitos humanos e mesmo à liberdade – palavra que dá origem aos diversos liberalismos. Trump não é apenas um radical: é um perigo para a própria democracia. Sua campanha tem um tom fascista, de repúdio à própria liberdade de se pensar diferente.
Trump estimula e permite a violência em comícios. Chama mulheres de porcos e cadelas. Tira sarro de latinos. Promete um muro entre os Estados Unidos e o México. Um liberal poderia falar em acabar com a OMC? Fala em agressões com armas nucleares. Mente compulsivamente. É um perigo para a democracia, para os Estados Unidos e para o mundo.
E no entanto… Por interesse em criticar qualquer política progressista, associam Hillary a um esquerdismo alucinado que obviamente não é a praia dela. Criam comunistas embaixo da cama para justificar uma guinada à direita. Desesperam-se com a possibilidade de haver um petismo americano (!), como se isso fosse sequer uma possibilidade. E fraudam a teoria política, além da realidade, para dizer que Trump é o menor dos males, que é um democrata.
Isso não muda absolutamente nada na eleição americana. Mas diz muito sobre a nova direita brasileira. Quem apoia Trump pode ser muita coisa. Liberal, definitivamente, não é.
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