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O que o curso de Comunicação da UFPR nos ensina

UFPR

Vinte anos atrás, um professor entrava em sala no prédio onde funcionava o curso de Comunicação Social da UFPR. Sem encontrar apagador, rasgou um pedaço de jornal e apagou o quadro com aquilo mesmo. Não era exatamente uma exceção: os banheiros não tinham papel higiênico e quando se pedia uma câmera ao técnico, para fazer trabalhos escolares, a resposta era que ele ia procurar o equipamento “na capoeira” onde tudo se amontoava.

Apesar disso, o curso funcionava e formou bons jornalistas, publicitários, relações públicas (nada de elogio em boa própria, estou falando de colegas). Mas, claro, quando inventaram a avaliação do governo federal, logo surgiu a proposta, ainda mais entre alunos razoavelmente politizados, de boicote. Ainda mais em tempos em que o governo era de Fernando Henrique e todos por lá eram contra uma avaliação “neoliberal”. Nunca deu nada. Agora, suspenderam o vestibular dos cursos, após 20 anos de boicotes sucessivos.

Em grande parte, a suspensão se deve a problemas de estrutura, pelo que entendi (uma das avaliações mede isso). Em parte também se deve à nota baixíssima dos alunos no Enade que, claramente, se deve à ideia ainda vigente de boicotar a avaliação. Em certo sentido, o boicote funcionou: os alunos conseguiram chamar a atenção para os problemas do curso, que agora finalmente terão de ser avaliados.

Viu-se nos últimos dias uma enxurrada de explicações para a situação dos cursos de Comunicação da UFPR. Para alguns, isso mostra que diploma de jornalista não serve para nada (não sou um militante do diploma, mas o argumento é ad hoc: cursos ruins não significariam a impossibilidade de cursos bons). Outros dizem que educação pública dá nisso mesmo: se Rodrigo Constantino fosse daqui estaria escrevendo um post pedindo que o curso fosse privatizado.

A explicação, seja qual for, sempre será incompleta se não incluir uma certa dose de desleixo que houve nas décadas em que acompanho a situação. Desleixo do MEC, que passou décadas sem avaliar os cursos. De novo desleixo do MEC, que viu os alunos protestarem por década e meia sem tentar descobrir o que ocorria. Desleixo de vários gestores que deixaram faltar o essencial, e dos alunos que, fora um boicote contra o suposto neoliberalismo, também se aproveitaram da facilidade que a bagunça interna lhes proporcionava: não eram cobrados por nada.

Não faz sentido transformar o caso em um libelo contra a educação pública nem contra os cursos de jornalismo. Muito menos contra a UFPR, que tem cursos fantásticos. O próprio curso de Comunicação teve avanços significativos (dez anos atrás, os professores ficaram fascinados em uma reunião quando souberam que podiam solicitar à Biblioteca Central que comprasse livros sobre os assuntos que estudavam; nunca havia lhes ocorrido).

O que o momento pede é, primeiro, que se aproveite para rever o que pode estar errado na faculdade de Comunicação, que tem, bem ou mal, quase meio século de serviços prestados e formou vários dos bons profissionais da terra. Segundo, que os envolvidos parem para pensar o que podem fazer: boicote a uma avaliação a essa altura é quase irresponsável. Há maneiras mais eficientes de protesto e, convenhamos, querer que o governo não tenha acesso ao que se faz com o dinheiro dos impostos não é ser contra liberalismo.

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