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Da coluna Caixa Zero, publicada na quarta-feira, na Gazeta do Povo:

É normal que, quando a coisa fica feia, alguém diga que político é tudo igual. Mentira, claro. Mas parece que eles realmente se esforçam, principalmente em época de eleição, para serem muito parecidos um com o outro. Justo na época em que você devia escolher um deles por se diferenciar dos demais. Curioso? Mas há método nessa loucura.

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Há uma teoria na ciência política que diz o seguinte: imagine uma linha que vai da extrema esquerda à extrema direita. Há eleitores espalhados por todo o espectro e ganha a eleição, claro, quem tiver mais votos. Se o sujeito ficar numa das pontas, conquista quem está nas imediações, mas perde o resto.

Agora imagine dois partidos que começam cada um numa ponta. Se você quer ganhar a eleição, o que você faria? Claro, dar um passinho rumo ao centro, para conquistar as pessoas que estavam infelizes com os dois extremos. Mesmo assim você continua sendo a melhor opção para quem estava no teu extremo. Mas qual a reação normal do outro lado? Dar um passo para o centro também.

Isso não serve só para a questão “direita-esquerda”, mas sim para todos os temas da política. De armas a assistência social. De direitos humanos a políticas de emprego. Todo mundo vai dando um passinho para o centro porque de lá dá para ter influência sobre mais eleitores. E todos os candidatos vão ficando meio iguais. Acabam falando generalidades: emprego e renda, saúde e educação e mais segurança. Eficiência. Transparência.

Petistas e tucanos mais empedernidos podem não concordar com o exemplo. Mas é bem possível trocar o discurso dos dois lados em algumas situações sem que a maioria das pessoas perceba.

Por um lado, isso é muito bom, porque garante que os extremistas sejam escanteados – só os que tendem à moderação vão aceitando como realismo a tática de caminhar ao centro. Alguém imagina Bolsonaro ou o PSol fazendo isso?

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Mas há o efeito nefasto também. Com a pasteurização, todos ficam parecendo insossos – o que só aumenta a impressão de que não tomam posição sobre nada, de que estão lá não pare defender posições e sim apenas para defender “o deles”. O candidato proverbial é aquele que, quando o eleitor pergunta sua avaliação sobre um tema, primeiro pergunta: “Depende, o que você acha?”

E aí é que surge o espaço para os radicais. Se os dois lados (supondo que haja apenas dois) caminham para o centro, há muita gente nos extremos que fica achando tudo isso uma brincadeira de mau gosto, que fica observando de fora sem se sentir representada. Não no Legislativo, que sempre tem espaço para candidatos de nicho. Mas no Executivo.

Se você pegar a eleição brasileira deste ano, pós-Lava Jato, vai ver que surgiram vários candidatos de extremos nessa brecha. O Rio de Janeiro é exemplar. Crivella contra Freixo. E por muito pouco o filho do Bolsonaro não chega ao segundo turno. Os moderados não tiveram a mínima chance.

A eleição americana é outro exemplo disso, ainda mais radical. Republicanos e democratas até têm suas diferenças, claro. Mas está cheio de gente querendo opções não convencionais, que divirjam do consenso. De um lado, a direita foi de Trump. De outro, o socialista Bernie Sanders quase chegou lá.

O risco de todo mundo ficar igual é que os diferentes (os muito diferentes) começam a ter chance. E aí a coisa fica bem perigosa.

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