O ministro Paulo Bernardo é um conciliador. Está no cargo de ministro das Comunicações justamente por isso: para acalmar tensões entre PT e empresários da área de informação. Por isso é estranho ouvi-lo falar grosso como fez no caso da espionagem da presidente Dilma.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro disse claramente que se tratava de coisa de arapongas. “Não tem nada a ver com segurança nacional [dos EUA]. Isso é arapongagem para obter vantagem nas negociações comerciais e industriais”, disse.
Arapongagem é um termo duro, mas que nesse caso parece descrever perfeitamente bem o que o governo dos EUA fez. Segundo reportagem do Fantástico, agentes da NSA estavam monitorando a comunicação de Dilma com seus assessores. E o documento exibido na reportagem, feita em parceria com Glenn Greenwald, do The Guardian, mostra qual seria o objetivo: “melhorar a compreensão dos métodos de comunicação e dos interlocutores da presidente e seus principais assessores”.
O petista tem razão: nenhum relação com a segurança dos EUA. Mesmo porque, qual é o risco que o Brasil representa nesse momento para Washington? O país não abriga a Al Qaeda, não tem armas de destruição em massa, não participa de nenhum conflito. Em teoria, são duas democracias funcionando sem incomodar uma à outra.
Os EUA têm um passado democrático a respeitar. São mais de dois séculos de governo constitucional. Trata-se da primeira revolução liberal do planeta, da mais antiga tradição republicana e presidencialista do globo. O país, junto com Churchill, ajudou a eliminar o nazi-fascismo da Europa.
Mas como superpotência, desde o fim da Segunda Guerra, os EUA também têm se mostrado insaciáveis na sua tentativa de influenciar nos rumos do mundo. Uma semana atrás, vieram à tona finalmente papéis que comprovam a participação da CIA no golpe que triou o governo popular de Mossadegh do poder no Irã, abrindo caminho para a tirania religiosa que impera hoje no país.
Na América Latina, os Estados Unidos intervieram sempre, e muito. Ajudaram a derrubar e a fazer governos. Imaginava-se que isso estivesse no passado, principalmente em função do fim da Guerra Fria. Barack Obama chegou à Casa Branca com u discurso de democrata liberal. Não acabou com Guantánamo, manteve a postura belicista e agora sabe-se que tem um sistema de arapongagem que monitora presidentes democraticamente eleitos.
O governo de Obama ainda está longe de chega ao nível de brutalidade e de desrespeito à democracia dos republicanos e de George W. Bush. Mas está indo ladeira abaixo.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião