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Uma sábia observadora já disse que daqui a seis meses todos nós possivelmente vamos estar sentindo raiva de Barack Obama. Não por nada. Mas é que, como presidente do império norte-americano, ele terá de tomar decisões difíceis, e terá de desagradar a muita gente. Ele próprio sabe disso. Escreveu que, por ser tão novo e desconhecido como é, muita gente projetará nele os seus próprios desejos, mesmo sem saber se ele os representa. E alguém irá ficar descontente quando o verdadeiro Obama for se revelando. Faz parte.

Mas, hoje, o mundo está feliz com a eleição dele. E acredito que há razões para isso. Ler o livro de campanha de Obama é um refresco para quem está acostumado a cobrir política. Primeiro, por saber que há gente na política capaz de escrever, de pensar, de debater de forma civilizada. Depois, principalmente, por aquilo que Obama diz.

Não se pode ser ingênuo a ponto de acreditar em tudo o que os políticos falam, é claro. Mas há um certo limite para a hipocrisia. A partir de um momento, conforme você vai conhecendo o discurso de alguém, é possível perceber se há ou não sinceridade. E o livro de Obama deixa claro que ele realmente acredita em alguns princípios fundamentais.

Um deles é o de que os políticos deveriam estar menos envolvidos com picuinhas partidárias, com a destruição do adversário ideológico, e prestar mais atenção ao que deve ser feito. Eis um parágrafo, toscamente traduzido, de A Audácia da Esperança:

“Talvez nós tenhamos chegado a um ponto de trivialização da política de onde é impossível voltar atrás, e a maior parte das pessoas a encare apenas como mais uma diversão, um esporte, com os políticos no papel de gladiadores e aqueles que se importam o suficiente para prestar atenção apenas como torcedores na platéia. Nós pintamos os nossos rostos de azul ou vermelho, torcemos para o nosso lado, vaiamos o lado deles e se for preciso um golpe final ou um truque baixo para ganhar, que seja, porque ganhar é tudo o que importa.”

Obama diz em seguida que não deveria ser assim. Descreve norte-americanos típicos, suas vidas, e conclui: “Eu imagino que eles estão esperando por políticos com a maturidade para equilibrar idealismo e realismo, que consigam distinguir entre o que pode e o que não pode ser negociado, que admitam que o outro lado pode, pelo menos, ter um pouco de razão”.

Quem dera nós tenhamos o juízo e a sorte dos norte-americanos. Dentro de dois anos, teremos de escolher novamente nosso presidente. E tudo indica que viveremos uma guerra de bugios, com PSDB e PT se atracando de maneira imbecil, tentando dividir a nação como têm se esmerado em fazer nos últimos anos. Continuaremos lendo e ouvindo aqueles que só conseguem ver um lado do mundo. E tomaremos decisões da maneira menos consciente possível, no calor da paixão partidária.

Seremos tucanos ou petistas, direitistas ou esquerdistas, esses ou aqueles, como se só fosse possível estar certo seguindo um dogma. Obama nos dá uma lição. “O que nós precisamos é de uma ampla maioria de norte-americanos – democratas, republicanos e independentes de boa vontade – que retomem o projeto de renovação nacional, e que vejam o seu interesse próprio como algo inextricavelmente ligado ao interesse dos outros”.

Assino embaixo.

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