O governo do estado e os deputados decidiram manter as verbas reservadas anualmente aos órgãos fora do Executivo. Cogitou-se tirar dinheiro do Tribunal de Justiça, do Tribunal de Contas e da Assembleia Legislativa. Isso poderia economizar R$ 403 milhões para o Executivo, mas preferiu-se não criar caso com desembargadores, conselheiros e deputados. Quem quiser mais, pode ir à matéria desta terça de Chico Marés na Gazeta do Povo.
É claro que a decisão é política. Mas pensando nas prioridades do estado parece não fazer o menor sentido. Todos os indícios são de que os órgãos do Judiciário, por exemplo, nadam em dinheiro. O Tribunal de Justiça, por exemplo, acaba de aprovar um auxílio-moradia esdrúxulo que torrará anualmente cerca de R$ 32 milhões em dinheiro do contribuinte. O Tribunal de Contas só não está construindo mais um anexo ao lado de sua suntuosa sede porque descobriu-se um possível chuncho na escolha da empreiteira. E a Assembleia diz que está economizando dezenas de milhões de seu orçamento ao ano.
Enquanto isso, o cidadão comum pena. Sofre para conseguir atendimento em várias unidades de saúde, só para começar. Na educação, no mesmo dia em que anunciou-se o repasse maior aos órgãos, descobriu-se que as universidades estaduais estão em mais uma situação vexaminosa de pindaíba. Na segurança, recentemente a PM ficou com o telefone cortado e cortou-se até a ração dos cachorros.
Faz algum sentido repassar valores para construir mais prédios públicos de luxo enquanto as atividades-fim continuam sem ter o dinheiro necessário? A impressão de quem vê de fora é que os responsáveis pela gestão acabam sentindo muito mais a pressão de seus pares lotados nos edifícios ao lado do que do público em geral. Os gestores da máquina pública conseguem fazer seu lobby de maneira muito mais competente, e ficam com a fatia do leão: não é apenas o suficiente para prestar um bom serviço, é o suficiente para que se paguem benesses e privilégios e muito mais.
O Centro Cívico às vezes se parece bastante com um condomínio de luxo, com prédios caros, habitantes privilegiados e uma quantidade imensa de recursos para fazer melhorias. Enquanto isso, fora de lá, o pessoal fica olhando com inveja e achando que merecia pelo menos um pouquinho mais daquela visível fartura. Mas não: pelo menos para 2015, a decisão está tomada. O dinheiro, mais uma vez, fica do lado de lá.
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