Faz sentido. Dilma não poderia querer nada melhor do que os black blocs. Eles são, ainda que não queiram ser, a melhor arma que o governo poderia querer parar evitar protestos pacíficos. Desde que tomaram de assalto as manifestações iniciadas em junho, só o que se ouve quando há novos protestos é de gente radical, mascarada, quebrando e desrespeitando a lei.
Há dois textos sobre isso nos jornais do fim de semana para cá, falando mais ou menos a mesma coisa. Reproduzo primeiro o início de uma reportagem da Folha de S. Paulo desta segunda-feira. Trata-se de uma entrevista com Chris Hedges, historiador e um dos apoiadores do Occupy Wall Street.
A violência dos “black blocs” ajuda o Estado ao afastar as massas de manifestações. “O poder do Occupy e, creio, dos movimentos no Brasil é que expressam as preocupações e as frustrações da maioria”, disse Hedges por telefone à Folha.
“Mas entregar o movimento para o black bloc’, ou deixar que eles o sequestrem, afasta as massas e transforma o movimento em marginal, exatamente o que o Estado quer”, afirmou.
Para Hedges, trata-se de “um instrumento muito eficiente para fazer as pessoas terem medo dos protestos”, além de facilitar a infiltração policial, ao menos nos EUA.
No Estadão, José Roberto de Toledo falou o seguinte:
A primeira manifestação em massa da classe média em duas décadas foi sequestrada pelos Black Blocs e assemelhados. Perdeu a força de uma ação coletiva. As imagens de bombas, correrias e apedrejamentos transmitidas sem cortes pela internet vão se repetindo até perderem a novidade, o interesse e a audiência.
Os anarquistas são bons de tática, mas péssimos de estratégia. Ao radicalizarem suas ações, capturaram o movimento e alienaram as outras facções que davam volume às manifestações. Perderam a massa que os protegia. Isolados, são alvo fácil da polícia.
Como todo radicalismo, o dos black blocs parece exigir que as pessoas se decidam entre estar a favor ou contra. Quando se chega ao ponto de querer quebrar, vandalizar em nome de um suposto projeto político, há que se partir que a situação vigente é não só ruim, mas insanável pelos canais atuais de participação.
Há quem concorde com isso. Mas é fácil prever que a maioria não concordará. Que verá os radicais simplesmente como intolerantes. E que veja as manifestações a partir de agora como algo de quem quer partir para a ignorância, negando que o país, inclusive na política, tem coisas boas a serem preservadas.
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