Publicado na Gazeta do Povo, neste domingo:
Liberdade de expressão. Direito de opinião. Claro que temos todos de defender. Não quero um mundo em que apenas aqueles que pensem como eu possam escrever ou publicar. Isso seria censura. É preciso haver pluralidade, mesmo porque só assim aprendemos algo, só assim o debate avança. Nem por isso aqueles que participam da arena pública estão autorizados a vê-la como uma espécie de vale-tudo. Muito pelo contrário: para sermos ouvidos, temos de ser civilizados.
O artigo de Carlos Ramalhete publicado na quinta-feira (leia aqui) sobre a adoção de uma criança por um casal homossexual, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça, causou fúria em muita gente (claro, houve também os que o defenderam). Há basicamente dois motivos para a ira, que levou inclusive à criação de protestos na internet (dizem que haverá até uma manifestação, ou algo assim, pedindo que Ramalhete deixe de ser publicado).
O primeiro motivo é a opinião propriamente dita. Ramalhete é contra a adoção por homossexuais. Num assunto polêmico, as opiniões contrárias às nossas normalmente nos irritam. E muita gente ficaria brava simplesmente por se ver contrariada. Mas até aí Ramalhete não teria nenhum motivo para se desculpar. Tem o direito à sua opinião, ainda que eu, você ou quem mais for não concordemos com ela.
O segundo motivo para a revolta, porém, é de outro tipo. E diz respeito ao tom, ao modo de falar. Diz respeito à grosseria. À falta de respeito com os outros. Diz respeito à intolerância e à falta de civilidade que, já em outras ocasiões, marcou os artigos de Ramalhete.
Em vezes anteriores, o colunista já havia destratado qualquer um que fuja à sua visão de mundo. Quem defende direitos de homossexuais está “esgarçando a tolerância” do brasileiro – o que justificaria ataques a gays. Feministas são “gambás”. Agora, aumentando a lista de preconceitos, pais adotivos são pais de mentira. E os gays continuam a ser o alvo preferencial de sua campanha.
O problema está aqui. Não está em ele ser contra ou a favor de algo. Mas sim em externar algo muito semelhante ao ódio, escrevendo de uma maneira que perpetua o preconceito. Um preconceito que é responsável pela formação de guetos, pela desgraça de muitos e até por assassinatos. O discurso não é perverso por ser conservador. É perverso por ser preconceituoso.
Precisamos de mais tolerância neste mundo. É preciso respeitar os diferentes. É preciso, inclusive, respeitar aqueles que defendem pontos de vista contrários aos nossos. Mas o limite da tolerância, como alguém já disse, é a intolerância. Não podemos ser passivos a ponto de colocar em risco as vidas de pessoas e a nossa própria civilização.
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