Da coluna Caixa Zero, publicada hoje na Gazeta do Povo:

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Um estudo de Maurício Canêdo Pinheiro, da Fundação Getulio Vargas, mostrou que 3% dos votos de Lula em 2006 decorreram da existência do Bolsa Família. Para aqueles que acreditam que a concessão do benefício é mera compra de votos (ou simples assistencialismo), esse é mais um argumento, e desta vez de fundo científico! São pessoas que mudaram seus votos em função de o governo ter-lhes concedido direito a uma renda mínima, imaginem.

A má vontade com o Bolsa Família vem de longe. Dizem que o programa mantém as pessoas na dependência do governo. Ou usam a célebre frase e afirmam que o governo está dando o peixe, em vez de fazer o certo, ensinar a pescar. Agora, então, dirão mais uma vez que o interesse do governo é meramente conquistar os mais pobres para seus candidatos.

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Não me encontro entre os que pensam assim. Acredito firmemente que uma das principais funções de um governo é prover condições mínimas de subsistência para aqueles que nada têm. Para isso, deve usar o dinheiro dos impostos não só para construção de infraestrutura e para prestação de serviços básicos, mas também para dar oportunidade de melhoria de vida a quem, de outra forma, não teria como sair do buraco em que se encontra.

Estamos falando de uma multidão de pessoas, país afora, que não conseguem encontrar emprego pela própria falta de treinamento, de capacitação, de oportunidade. São aqueles que Fernando Henrique chamou de inimpregáveis. Gente que, em muitos casos, não tem como comprar o básico para sua casa.

Cresci ouvindo os representantes do governo dizendo que era preciso primeiro fazer crescer o bolo para depois distribuí-lo. Trata-se de uma grossa engazopação, como já na época ficava claro. Não queriam dividir bolo algum. A ideia sempre foi a de fazer o bolo crescer para que os eternos convidados de uma restrita festa pudessem se fartar mais. Os pobres? Bem, os pobres…

Ensinar a pescar é necessário, claro. No entanto, atribuem a Madre Teresa uma bela verdade: às vezes, o sujeito está fraco demais para pescar, e é necessário dar-lhe o peixe. Só entende isso quem já viu pobreza de verdade. Sou filho da classe média e durante minha vida toda nunca precisei me preocupar muito com o básico. Estava tudo garantido. Mas, como repórter, vi coisas assombrosas circulando pela minha cidade. Não há como não defender um programa de renda mínima depois de ver o que eu vi. E que nós não vemos mais porque talvez não estejamos interessados em ver.

Os 3% de votos são uma decorrência disso. Compra de votos? Não vejo problema em alguém votar num político que está fazendo algo pela sua classe. Fa­­zen­­deiros votam em ruralistas, que defendem seus pontos de vista; sem-terra, por outro lado, votam em candidatos que prometem a reforma agrária; industriais fazem os pretendentes aos cargos assinarem cartas de compromisso antes de lhe dedicarem apoio. (A redução de IPI teve custos grandes para o governo. Por que falam mais do custo do reajuste do Bolsa Família).

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Por que só os mais pobres não teriam direito de votar naqueles que fazem algo por sua classe? Não será mero preconceito de nossa parte?

Ninguém quer depender do Bolsa Família. Muitas pessoas já deixaram o programa porque conseguiram melhorar de vida, arranjaram emprego, conseguiram uma renda fixa. O ideal é que todos um dia consigam o mesmo. Até lá, porém, não me peçam para que o governo deixe de ajudá-los, ou que não reajuste o benefício. Desejar que os pobres continuem pobres é uma estranha perversão.