Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quinta-feira, na Gazeta do Povo:
O grupo do prefeito Gustavo Fruet (PDT) acha que a elevação da tarifa de ônibus nos próximos dias não vai causar sérios problemas eleitorais em outubro. Talvez o pessoal da Cândido de Abreu esteja expressando um desejo mais do que uma convicção, mas para eles o cálculo é de que a população entenderá que tudo subiu e que é impossível manter o sistema funcionando sem um reajuste. É de duvidar que a mente do eleitor seja assim cartesiana…
A prefeitura admite trabalhar com uma tarifa de até R$ 3,80. Idealmente, gostaria de ficar em R$ 3,70. Mas desde a segunda-feira (11), quando começou a nova greve do sistema, vem dizendo que se recusa a aceitar os R$ 4 pedidos pelo sindicato patronal.
O valor depende agora principalmente do tamanho do reajuste que será concedido a motoristas e cobradores. Fruet vem há tempos alertando que não tem como dar aumento real – se a categoria aceitará isso são outros quinhentos.
Na hipótese dos R$ 3,80, o cálculo da turma da prefeitura é de que isso só afetaria cerca de um quarto dos passageiros, já que uns 60% recebem vale-transporte de suas empresas e outros 13% são de passagens gratuitas (idosos, policiais, carteiros etc). Mesmo assim, “só” 27% dos passageiros é coisa pra burro. Estamos falando de 500 mil passagens por dia, mais ou menos. O número de passageiros, claro, é menor, já que muita gente paga mais de uma passagem por dia, mas mesmo assim um número impressionante de eleitores.
De qualquer jeito, o embate da prefeitura com as empresas não terminou, nem está perto de chegar a algum lugar mais calmo. Nesta semana, a situação forçou a Urbs a fazer um “vale” de R$ 3,5 milhões para as empresas. Coisa de duas creches novinhas em dinheiro adiantado para que o sistema não parasse. Sinal de que, se as contas dos empresários são confiáveis, a conta não está fechando. Agora, eles dizem que precisam de R$ 4 para levar cada passageiro. E qualquer valor menor mantém o impasse. Ou melhor: mantém a chance de atrasos salariais e de novas greves.
Quanto mais perto da eleição, maior o peso político de uma paralisação que deixa centenas de milhares de eleitores a pé. E, não sejamos ingênuos, todas as partes envolvidas no processo sabem muito bem disso. Para uns, isso é motivo de preocupação. Para outros, uma oportunidade que lhes cai no colo. Quase tudo nesta vida é uma questão de ponto de vista, da cadeira em que se está sentado.
Para os adversários de Fruet na eleição, por exemplo, o espetáculo está bonito de se ver do camarote. O prefeito não consegue se desvencilhar da pressão, afirma não ter como subsidiar o sistema e, falando francamente, enfrenta oposição aberta tanto do sindicato patronal quanto dos representantes dos trabalhadores. No discurso, Fruet diz que recebeu o nó já atado pelos antecessores. Em parte, tem razão: a licitação de 2010 foi um desastre.
Mas, de novo, a cabeça do eleitor não funciona com uma lógica tão fria. O que o sujeito vê é se o dinheiro está ficando curto no fim do mês e se tem ou não tem ônibus para ir aonde precisa. Na Itália fascista, apesar de todos os desastres que a população enfrentava, havia uma brincadeira de que o povo se consolava com uma coisa. Pelo menos os trens chegavam no horário…
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