O menino Leonardo morreu. Seu corpo, mal chegado à vida adulta, foi perfurado por uma bala. Ninguém entendeu por que aquilo aconteceu: uma submetralhadora da PM não devia disparar contra alguém que não fez nada. Que estava só andando para ir a um jogo de futebol. Mas disparou. E a bala perfurou o corpo do menino. E Leonardo morreu.
Não há como saber o que aconteceu. Pelo menos não por enquanto. Há uma investigação. O sargento que carregava a submetralhadora diz que não apertou o gatilho, que não fez nada. A arma, diz ele, disparou por acidente. É verdade que acidentes acontecem: quando acontecem com armas – muito especialmente quando acontecem com submetralhadoras em meio a um grupo de pessoas – o resultado é trágico.
Só com calma e investigação vai se saber com certeza o que aconteceu. Mas o que já se sabe sobre a tragédia exige que algumas perguntas sejam feitas. Afinal, um menino morreu. E morreu à toa. Aparentemente morreu porque um policial foi colocar a arma na bandoleira (espécie de suporte) e ela disparou sozinha. Na direção do garoto.
A primeira pergunta é: por que a escolta de um grupo de torcedores precisa ser feita com policiais armados com submetralhadoras? E por que era preciso haver munição letal (ao invés de balas de borracha, por exemplo)? Não se tratava de uma transferência de criminosos saindo de um presídio de segurança máxima.
A segunda pergunta é: mesmo que a arma tenha disparado por acidente, por que estava apontada para Leonardo? Ex-comandante-geral da PM paulista, o coronel Rui César Melo ensina: arma é para ficar no coldre até o momento da ação; e no caso de submetralhadora, só se põe na bandoleira com o cano apontado para o alto.
Todo manual de segurança no manuseio de armas tem algumas instruções básicas. A Cartilha de Armamento e Tiro da Polícia Federal tem 28 regras. A primeira é: “Só aponte sua arma, carregada ou não, para onde pretenda atirar”. A terceira: “A arma nunca deverá ser apontada em direção que não ofereça segurança”.
Nem sempre a polícia segue as regras mínimas de segurança. Nem sempre mantém o revólver no coldre quando devia. Muitas vezes você vê militares com as armas para fora das viaturas, se expondo a solavancos – e a mais terríveis acidentes como o do menino Leonardo, já que, como diz outra regra da Polícia Federal, “as travas de segurança da arma são apenas dispositivos mecânicos e não substitutos do bom senso”.
A polícia brasileira mata demais – em níveis inaceitáveis. No Paraná, segundo balanço divulgado nesta semana, foram 264 mortos em confrontos com a polícia só em 2016. Quantidade ainda maior do que o já assustador número de 2015, quando foram 247 mortes.
Sempre a PM se defende quando é criticada por esse excesso de violência, dizendo que a guerra urbana é bruta: 22 policiais também morreram baleados no ano passado. Mas o caso do garoto Leonardo é de outro tipo – até mesmo a PM pediu desculpas. Não há qualquer defesa possível para o tiro, a não ser a hipótese de um acidente.
Que pelo menos isso sirva para que a polícia rever os seus procedimentos.
PS: Enquanto a lei trabalhista não muda, este repórter sai de férias por 30 dias, daqui e do blog Caixa Zero.
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