Senador McCarthy: um símbolo para as "pessoas de bem".| Foto:
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Há expressões que revelam muito sobre quem as usa. Por exemplo: alguém que se refere sempre às “pessoas de bem”. É possível saber muito sobre quem usa com frequência essa expressão.

Em primeiro lugar, você pode saber que essa pessoa se considera parte do grupo que está elogiando. Só quem se acha “de bem” fala o tempo todo nas “pessoas de bem”.

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Um primeiro problema: e quem é que não se acha “do bem”? Todo mundo acha que está certo. Diz uma piadinha que todo mundo pensa ter bom gosto e bom senso de humor. Todo mundo também se acha boa gente.

O ser humano tem a tendência de racionalizar o que faz. Alguns dos piores ditadores do mundo (todos?) achavam que estavam agindo em nome de uma boa obra. Por exemplo: livrar o mundo das “pessoas más” – hereges, judeus, burgueses contrarrevolucionários…

Mais: é possível saber que quem fala em “pessoas de bem” necessariamente acha que existem dois tipos distintos de pessoas. As do bem e as que não o são. Provavelmente, por dedução, o segundo tipo é pior. São pessoal “do mal”? Provavelmente.

Nesse discurso, pode-se especular qual p critério para definir quem são as “pessoas de bem”. Quem define quais são essas pessoas? Quem define o próprio critério? Um palpite: pessoas de bem seriam aquelas que concordam em definir que aqueles que pensam diferente delas são “do mal”.

Quem fala em “pessoas de bem”, “famílias de bem”, “brasileiros de bem”, também parece acreditar que a fronteira entre quem está desse lado (tão perfeito!) e os outros é intransponível. Ou você é de bem e não comete erros. Ou está do outro lado, e é inimigo.

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As pessoas de bem – não as pessoas boas de fato, mas as pessoas que insistem em se dizer “de bem” – estariam acima de crítica. Quem as critica passa a estar do outro lado. Como criticar o bem?

Esse discurso, na política, serve principalmente hoje a grupos de conservadores e de direita (normalmente de extrema direita) que pretendem se adonar das virtudes. Como se disputas políticas não se dessem entre pessoas que pensam de forma diferente – e que podem estar certas num momento e erradas no outro.

Nesse discurso, existem os bons e os maus, como num filme da Disney. Alguns com todas as virtudes; os outros, depravados, que devem ser contidos com a força e a lei.

Há pessoas de bem defendendo a morte dos outros. Defendendo chacinas. Defendendo que nem todos devem ter acesso a direitos humanos – recusando a própria ideia de direitos humanos. Há pessoas do bem que desejam que voltemos à barbárie.

Há pessoas de bem que odeiam quem tenta ser feliz – só porque busca a felicidade com uma sexualidade com a qual as pessoas de bem não concordam. Há pessoas de bem que acham que quem é diferente, vive de modo diferente, precisa ter menos direitos. Para incentivar os demais a também serem de bem – se é que essa redenção, na visão de algumas pessoas de bem, seria possível.

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Houve pessoas de bem que defenderam a escravidão, a tortura, a morte de presos políticos, o banimento, o degredo, o genocídio.

O discurso das pessoas de bem é perigoso. Justifica todo tipo de pena para quem pensa diferente. Para quem errou. Parte do princípio de que não acredita nessa divisão está errado. E condena desde o início qualquer crítica a um grupo que se protege por meio de um selo.

As pessoas do bem, às vezes, são de dar medo.

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