Os números fragmentados do Ibope mostram que a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) tem apoio em quase todas as classes sociais e regiões do país. Mas há duas exceções importantes, e que mostram uma virada em relação às últimas eleições presidenciais.
Quem está decidindo o resultado, acima de tudo, são as regiões Sul e Sudeste. E, no critério de renda, quanto mais sobe a classe social, maior é a diferença a favor de Bolsonaro. As fatias mais pobres e menos escolarizadas do eleitorado são as únicas que dão vitória ao PT de Fernando Haddad.
Entre os eleitores que têm renda de até um salário mínimo, Haddad, vence por 53% a 38%. Em compensação, quando se olha para quem tem mais de cinco salários de renda, o capitão da extrema-direita ganha por 65% a 25%. É como se a “vez dos pobres” tivesse acabado.
O mesmo acontece regionalmente. O Nordeste, região mais pobre e menos favorecida do país, é a única área geográfica em que Haddad vence, e até com certa tranquilidade. São 57% dos votos a favor do petista, contra 33% de Bolsonaro.
Mais uma vez o mesmo fenômeno se verifica na escolaridade: quem tem menos estudo vota em Haddad. Quem já fez sua faculdade, vota em Bolsonaro.
Vermelhos e azuis
Nos Estados Unidos, há um mapa que todo jornalista político conhece, que divide o país em estados “azuis” (que votam tradicionalmente nos Democratas) e “vermelhos” (que são tipicamente dos Republicanos). Os “swing states”, que mudam de posição a cada tempo, são quem decide a eleição.
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Por lá, há motivos históricos importantes para essa divisão. Por exemplo, estados onde há mais negros, estados mais próximos da região industrializada tendem a ser mais progressistas. A região agrícola no meio do país é mais conservadora etc…
Por aqui, nosso mapa “vermelho” e “azul” parece ter mais a ver com geografia humana. Os pobres, desde o início da era petista, em 2002, pelo menos, vêm votando de modo mais progressista. Os mais ricos, mais à direita. Os “swing states” seriam a classe média.
A hora e a vez dos mais ricos
A região em que a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad é mais ampla é o Sul, onde o IDH também é mais alto. Uma região onde muita gente sempre se queixou de “sustentar” os nordestinos, se queixa do Bolsa Família e onde chega a existir inclusive um movimento separatista em função disso.
É como se, depois de quatro mandatos petistas (um cortado pelo meio), em que as populações mais pobres estiveram no centro do debate, ganhando uma inédita atenção com programas de renda mínima, acesso a universidade, cotas etc, os mais ricos tivessem virado a mesa. Como se estivessem dando um basta a isso.
A opção pelo suposto liberalismo de Bolsonaro, em certa medida, parece ser uma opção por se livrar da carga dos custos sociais de projetos que tentam reduzir a desigualdade do país, elevando as condições de vida dos mais pobres. É disso que se trata, em boa medida, o discurso a favor de um Estado mais “leve”, com menos impostos.
Não é à toa que a proposta de Imposto de Renda de Paulo Guedes cobra menos tributos dos mais ricos e aumenta a carga sobre os que têm menos. A ideia é essa mesma. E o eleitor, tanto de um lado quanto de outro, sabe muito bem que isso está em jogo.
Metodologia
O Ibope ouviu 2.506 eleitores em 13 e 14 de outubro, a pedido da Globo e do Estadão. Registro no TSE: BR-01112/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
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