O motivo principal da proposta é a preocupação com os cavalos. Os cavalos seriam vítimas de abuso. “Há carrinheiros que alugam seu cavalo para fazer mais dois turnos, os cavalos acabam não suportam e acabam morrendo”, diz Paulo Colnaghi, coordenador da Rede de Defesa e Proteção Animal da prefeitura.
Do ponto de vista da defesa do direito dos animais, o projeto não traz nenhuma polêmica. Mas há duas controvérsias óbvias que vêm por aí. E, claro, elas têm relação com a situação dos humanos envolvidos no processo.
1- E quem depende do cavalo?
Há vários carrinheiros que têm no cavalo um elemento econômico importante para sua sobrevivência. Sem o animal, perderão dinheiro – e ele já é pouco. Além do mais, eles gastaram para comprar o cavalo e para mantê-lo.
A prefeitura responde que esses animais, quando forem entregues, renderão aos carrinheiros uma “indenização”, na forma de um equipamento que ajude a fazer o mesmo trabalho sem o animal. Ainda não se sabe o que será, mas provavelmente será um mecanismo elétrico que ajude a tornar o carro mais leve.
Segundo a prefeitura, são cerca de 100 cavalos nessa situação no momento – e 100 famílias de carrinheiros. “Tem uma solução em Porto Alegre que eles chamam de ‘cavalo de lata’, mas depende de autorização do Denatran”, diz Colnaghi.
Parece claro, porém, que a solução deveria ter sido fechada antes de enviar o projeto para a Câmara. Do jeito que está, e com a velocidade com que as coisas andam na administração pública, não seria nem um pouco de estranhar se a lei entrar em vigência e os carrinheiros ficarem na mão.
Além do mais, a prefeitura diz que precisa de uma empresa para patrocinar o projeto. E se o dinheiro não vier?
2 – E os veículos de tração humana?
Claro que ninguém quer cavalos sendo maltratados. Mas o principal parece ser favorecer a situação de quem depende da própria força para puxar carrinhos de até 300, 400 quilos pela cidade para ganhar uma ninharia.
Nas últimas gestões, houve alguns avanços quanto a isso, principalmente com a implantação do EcoCidadão, que é um local para trabalho cooperativo dos carrinheiros, que elimina atravessadores e diminui distâncias – projeto, aliás, da gestão Richa/Ducci.
Mas algumas coisas nunca saíram do papel, como um carrinho elétrico que se promete desde os anos 90 e que tornaria o trabalho mais leve e menos desumano. Agora, proíbe-se que os cavalos façam um trabalho que continua sendo imposto a humanos. Não parece justo.
A resposta da prefeitura é que ambos os problemas são importantes e que ambos estão recebendo atenção. Com a instalação de contêineres para receber recicláveis (que recebem o nome pomposo de “estações de sustentabilidade”, mas são apenas uma lata com buracos), a ideia seria reduzir os caminhos percorridos.
De novo: ótimo que se ajudem os cavalos. Mas o primordial seria ajudar os humanos, que retiram a maior parte do lixo reciclável das ruas e continuam em situação absolutamente miserável.
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