Um grupo de professores do Colégio Medianeira está divulgando uma carta em apoio à colega que foi execrada nas mídias sociais depois de criticar alunos em uma manifestação política. A professora, que lecionava História para alunos do 9.º ano, disse que alunos que foram à aula vestidos de preto estavam apoiando um “golpe” e usou uma imagem de garotos fascistas em seu post.
A postagem, colocada na página pessoal da professora, causou furor entre os pais de alunos. A professora recebeu inúmeras críticas e foi chamada de “porca petista”, entre outras coisas, em grupos de pais. Acabou pedindo demissão do colégio. Teve apoio do Medianeira, que está falando com pais que se exaltaram mais e trabalhando o tema com os alunos.
Agora, um grupo de professores afirma que a professora estava apenas exercendo seu direito constitucional de emitir opinião. Veja o texto:
CARTA DE APOIO AO DIÁLOGO E PELO RESPEITO AOS EDUCADORES
Cada um de nós, abaixo nomeados, educadores do Colégio Nossa Senhora Medianeira, chegamos e permanecemos nesta instituição devido a um percurso individual, acadêmico e profissional que deve ser respeitado por toda a comunidade escolar. Através desta carta, manifestamos publicamente nossa posição em defesa das instituições democráticas e do Estado Republicano de Direito, uma conquista historicamente construída, e pelo fim da virtualização das relações com a comunidade escolar, que tem desumanizado as pessoas (pais e mães, alunos e alunas, educadoras e educadores).
Manifestamos também nosso apoio inconteste à colega e professora de História do 9º ano, que foi execrada virtualmente por ter-se posicionado politicamente, em seu perfil pessoal do Facebook. A professora, sua biografia, seu percurso, seu engajamento no exercício de uma docência preocupada com a formação integral, cidadã, solidária e não meramente técnica de nossos alunos e alunas, contudo, foi mal interpretada e alvo de uma série de comentários em um grupo, na mesma rede social, e em seu perfil pessoal, com xingamentos à educadora e até ameaças. De modo geral, os integrantes do grupo afirmavam que tal análise fosse doutrinação partidária, ainda que a educadora não tenha agredido a imagem de nossos estudantes ou da instituição, jamais os identificando e os expondo no ciberespaço, mas simplesmente compartilhando uma de suas impressões sobre o contexto atual. Ela estava somente exercitando, pois, em espaço não institucional, sua liberdade de expressão sem qualquer intenção de cercear direito alheio similar.
É evidente que, como em todos os espaços democráticos, dentro desta instituição de ensino, tal como, arriscamos dizer, em qualquer outra, não há unanimidade, nem é o que se busca, tanto entre os educadores e profissionais quanto entre os educandos e suas respectivas famílias. Conviver harmoniosamente e respeitar as diversas liberdades de expressão é uma convicção que reiteramos por meio desta carta. Ou seja, esse foi um episódio entre tantos que já ocorreram e que, esperamos, não se repitam, pela escassez analítica e reflexiva de quaisquer das partes, típica das redes sociais e contrárias ao estímulo do conhecimento escolar.
Portanto, neste momento de crise e polarização do contexto político brasileiro, é de suma importância ressaltar que durante o exercício da docência da professora não houve sequer um episódio que respaldasse tal falta de respeito. Segundo a Constituição de 1988, as liberdades de expressão e manifestação devem ser asseguradas e o dissenso, próprio à democracia, também, levando em consideração a ampla defesa e a presunção da inocência. Ou seja, tal cerceamento desconsidera o Poder Judiciário e a função social da educação e do professor.
O meio virtual não pode ser uma ferramenta de exposição indevida de qualquer pessoa. Reconhecemos a importância do ciberespaço como local de difusão de conhecimento, fusão de culturas e mesmo democratização de saberes. No entanto, certos usos desse meio têm desumanizado nossas relações. Se alguém não concordou com a postagem feita pela referida professora, tem canal aberto para uma conversa pessoal e não virtual, que muitas vezes não nos permite o direito de resposta. Isso vale para qualquer situação: aulas, materiais, tarefas. Grupos virtuais devem servir para troca de informações, campanhas, companheirismo, mas não para execrar, desqualificar, desumanizar ou ameaçar uma pessoa.
Vale ainda ressaltar que a escolha do currículo das diversas disciplinas e etapas escolares não é arbitrária, pelo contrário, é pautada pelo MEC (Ministério da Educação), pelos princípios da educação inaciana e pelo Projeto Político Pedagógico do Colégio Nossa Senhora Medianeira. Logo, enquanto educadores, assumimos um compromisso com a formação da e para a cidadania: na justiça social, no direito à vida digna, no compromisso com o planeta como nossa casa, na formação de pessoas críticas e comprometidas com seu tempo e lugar e, consequentemente, na formação de pessoas que respeitem o outro e sejam conscientes do seu compromisso com um mundo solidário. Isto é, na formação de pessoas competentes acadêmica e humanamente.
Finalmente, como cidadãos, mas sobretudo como educadores, manifestamos nosso apoio à professora, na esperança de que o respeito à pluralidade e diversidade nos espaços formativos seja garantido, por meio de embasamentos teóricos sólidos, gerando espaços de reflexão responsivos. E, acima de tudo, esperamos que o respeito à vida, ao outro, à dignidade, aos direitos fundamentais de todos os cidadãos brasileiros sejam preservados mesmo em meio ao contexto conturbado atual, a fim de evitar a perda de conquistas democráticas e republicanas de difícil e lenta gestão em nossa História nacional. Trabalhamos, diariamente, para a construção de um mundo justo, solidário e capaz de transformar a alteridade como máxima de vida.
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