A notícia de que a Comec se propôs a renovar o subsídio do transporte coletivo poderia parecer uma boa coisa: afinal, sem o subsídio, a chance de greves, paralisações e crise no sistema aumenta significativamente. Basta ver que nos últimos meses, em parte graças aos atrasos dos pagamentos do governo do estado, houve pelo menos uma paralisação e duas ameaças de greve.
Mas vendo a proposta da Comec é fácil entender que a conta vai continuar não fechando. Simplesmente porque o órgão, ligado ao governo do estado, decidiu que pretende reduzir em dois terços o repasse que faz à Urbs, ligada à prefeitura. Ao invés de repassar R$ 7,5 milhões por mês, repassaria R$ 2,3 milhões.
Isso significa que, por mês, a Urbs deixaria de contar com R$ 5,2 milhões, aproximadamente. Em um ano, caso esse valor fosse aplicado linearmente, seriam mais de R$ 62 milhões perdidos para o sistema. Não é pouca coisa. São cerca de 6% do custo do sistema como um todo.
Para quem pode não ter entendido a situação: a Comec tem a obrigação de ajudar no transporte porque as linhas metropolitanas (que ligam a capital às cidades vizinhas) são de responsabilidade do governo. A Urbs gerencia o sistema, mas precisaria de uma compensação financeira por pagar as empresas que fazem as viagens.
O truque é que o governo, contrariando tudo o que se sabia sobre o modelo até então, encomendou uma pesquisa de origem e destino (com metodologia bastante controversa, diga-se) que apontou que as viagens metropolitanas não são a parte mais cara do sistema. Que com R$ 2,85, por incrível que pareça, a tarifa se paga. E que, portanto, o rombo está nas viagens mais curtas feitas dentro de Curitiba.
(O governo, porém, diz que não usou os dados da pesquisa origem-destino nesse cálculo, e que teria usado meramente informações da própria Urbs. Segundo a Comec, antes o governo estaria pagando mais do que devia.)
Como a prefeitura nunca se mexeu para fazer uma pesquisa do gênero, não tem como contradizer os números do governo. E agora a Urbs fica na seguinte situação: depende de convencer o governo a, já que fez esse blefe, assumir as contas das metropolitanas integralmente. Trata-se de pressão política, mas que pode não funcionar.
Há o problema para o passageiro, que é de longe o mais importante. O curioso, politicamente, é ver que a tal parceria de Beto Richa (PSDB) e Gustavo Fruet (PDT) parece cada vez mais longe. Afinal, aliados não se tratam assim, não é?