O comentário de uma internauta sobre a “cara de doméstica” das médicas cubanas mostrou mais uma vez todo o preconceito existente no país. A aparência do sujeito já indica o que ele pode ou não pode fazer. A moça que fez o comentário, e que acabou cancelando a conta no Facebook devido à reação negativa, dá a entender que não daria para confiar num médico com aquela aparência. Ou seja: num médico que não fosse branco?
O ex-secretário da Saúde Nizan Pereira costumava fazer essa pergunta: quantas vezes você foi ao médico e ele era negro? Se alguma vez isso aconteceu com você, trata-se de uma raridade. Embora não haja obviamente alguma lei escrita que determine a relação entre etnia e profissão, sabemos que no fundo as duas coisas estão intimamente relacionadas.
Isso poderia até mesmo ser usado como um argumento a favor da importação dos cubanos que estão vindo trabalhar no Brasil. Os argumentos contrários continuam sendo muito mais numerosos, mas essa é outra história. No entanto, definitivamente o caso fez reforçar a defesa da necessidade das cotas raciais nas universidades brasileiras, especialmente nas universidades públicas.
O choque causado pela visão de médicos negros só existe porque nunca tivemos isso como algo normal em nossas vidas. A partir do momento em que se tornar comum, o preconceito evidentemente diminuirá. Se a moça que fez o comentário no Facebook tivesse tido um pediatra negro, uma clínica geral mulata, se tivesse sido atendida por um advogado negro, a noção dela sobre aparência seria outra.
A escolha de critérios raciais como forma de seleção para as universidades não pretende reforçar o racismo, como afirmam alguns. Pretende reconhecê-lo e admitir que é preciso fazer algo para que ele diminua. E a reação negativa às cotas, em boa medida, pode sim ter a ver com o mesmo preconceito que levou a moça a escrever o que escreveu. É o estranhamento de ver gente “com cara de doméstica” na universidade.
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