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Dia desses, estavam em uma sala de aula curitibana cerca de 40 pessoas. A maior parte, muito jovem. A pergunta que foi feita a todas elas era a seguinte: quantos acreditavam que uma democracia era o melhor regime sempre? A maioria ergueu as mãos, mas nem todas. Veio a segunda parte: quantas pes­­soas achavam que, em alguns casos, uma ditadura poderia ser melhor do que uma democracia? Meia dúzia de mãos para cima.

Não é incomum ouvir argumentos contra a democracia. No ônibus, pode-se ouvir, vez em quando, alguém falando que democracia é sinônimo de bagunça. Normalmente, relata-se em seguida o caso de algum roubo ou homicídio que ficou impune como prova de que as coisas não funcionam. Às vezes a situação é outra: em alguma discussão sobre política, na internet, surge alguém para dizer que “no tempo dos militares não era assim”.

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Aparentemente, o maior risco que corre hoje a democracia brasileira não tem a ver com nenhum partido ou grupo político, não tem relação com qualquer ideologia. O risco vem de uma tremenda desconfiança dos cidadãos em relação às instituições. Muito especialmente, ninguém mais parece confiar que as pessoas sejam punidas por seus erros. Criminosos comuns ficam impunes. E os políticos que praticam irregularidades, então…

A derrocada de João Claudio Derosso pode funcionar como um antídoto para o problema. Menos de um ano atrás, o vereador era poderosíssimo. Tinha apoio de seus pares para permanecer na presidência da Câmara vez após vez. Cogitava-se que poderia ser vice-prefeito, e ele próprio contava que teria sido convidado para presidir a Comec.

Agora, a situação é bastante diferente. Derosso perdeu a presidência, foi forçado a abandonar o partido e, na prática, está inelegível. O Ministério Público o denunciou e o vereador teve seus bens bloqueados por ordem judicial. Até programas humorísticos agora andam atrás do vereador para tentar entregar camisetas desaforadas sobre desvios de verbas públicas.

É uma história triste, claro. Mas Derosso não tem ninguém a quem culpar. Está sendo meramente julgado por seus atos. E isso é uma boa notícia. É claro: o vereador ainda terá o direito de se defender, como precisa acontecer num Estado de Direito. Mas as provas contra Derosso eram tão fortes que sua situação ficou insustentável.

Não se trata de linchamento moral, nem de perseguição, como alguém poderia alegar. O que ocorreu foi apenas uma reação à indignação com que os eleitores parecem ter recebido a série de denúncias sobre a Câmara. A desculpa dos políticos costuma ser justamente a de que é preciso esperar primeiro que a Justiça decida. Como tudo demora anos, no meio tempo o sujeito se reelege e diz que “as urnas o absolveram”. O julgamento político ajuda a colocar as coisas no seu lugar. Ajuda a mostrar que a democracia não é sinônimo de impunidade.

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Caso as “barbaridades” da Câmara (como bem definiu um dos suspeitos, Algaci Tulio) ficassem impunes politicamente até que tudo transitasse em julgado, lá por 2023, seria mais um motivo para a população descrer da democracia e das instituições. A própria Câmara de Curitiba tem chance de sair mais forte de toda essa história. Mas isso depende da boa fé dos vereadores. E da inteligência dos eleitores em outubro próximo.

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