Por indicação do grande Guilherme Voitch, fui ver neste fim de semana o excelente O Leitor, de Stephen Daldry. Além de ser bela diversão, o filme traz uma pergunta intrigante: até onde cada um de nós resistiria à barbárie em forma de governo?
Um aviso. É difícil não estragar uma parte da diversão do filme para quem ainda não foi ver. Portanto, se preferir não saber, pare de ler agora.
A história tem a ver com uma mulher, que aparece na primeira metade do filme como uma cobradora de bondes. Ela tem um caso com um menino bem mais novo. Você simpatiza com ela. Ela gosta de livros. Ele lê para ela. Eles parecem gostar muito um do outro…
Depois, na segunda metade, você vem a saber que ela foi guarda da SS em Auschwitz, quando tinha vinte e poucos anos. Trabalhava na Siemens. Não sabia ler nem escrever (era a Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial, destruída e humilhada pelo Tratado de Versalhes).
Sem poder aceitar uma promoção, prefere ir trabalhar nos campos. Lá, é uma das guardas que escolhe as prisionaieras que vão morrer. E assiste a um incêndio que mata 300 judias trancadas numa igreja – sem fazer nada para evitar a catástrofe, sem abrir as portas para elas.
Durante seu julgamento, ela é a única a admitir tudo. E o momento crucial do filme é quando ela pergunta ao juiz, honestamente, o que ele faria nu lugar dela.
É claro, muita gente resiste ao autoritarismo. Muita gente mostrou bravura a cada ditadura que se instalou no mundo. E éssa é a atitude certa a tomar.
Mas o filme mostra como uma cidadã comum acaba compactuando com um regime hediondo num grande crime humanitário. É aquela mesma moça que passeava de bicicleta alegremente com o jovem herói do filme. Podia ser outra. E outra. E foram tantas…
Quantos de nós, quantos ao nosso lado, estariam dispostos a colaborar com algo do gênero.
Se Deus quiser, nunca vamos saber.
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