O vereador Mestre Pop (PSC) protocolou denúncia formal na Câmara de Curitiba contra o colega Zé Maria (SD) por racismo. Antes, já tinha levado o caso à polícia. Agora, quer que Zé Maria seja julgado no Conselho de Ética do Legislativo.
A Corregedoria deve analisar a situação. Dificilmente, tanto pelo histórico quanto pela gravidade do fato, Zé Maria receberá qualquer punição mais pesada. As penas previstas para quebra de decoro começam com advertência e chegam à perda do mandato.
Mesmo que os vereadores decidam não punir Zé Maria, o fato trouxe à tona um caso relevante para discutir a postura dos políticos em relação a temas sensíveis, como os direitos humanos e o respeito à diferença. Afinal, não se trata “apenas” de uma piada.
Lembrando o caso: Zé Maria, que alega não ter desejado ofender ninguém, leu uma piada em voz alta nas dependências da Câmara. “Por que o preto entra para uma igreja evangélica? Para chamar o branco de irmão.” Pode não ter havido o desejo de ofender, mas a ofensa aconteceu.
Na cabeça do vereador, isso pode ter soado inofensivo. E é justamente esse o problema. Esse tipo de “brincadeira” em que se inferioriza uma etnia ou um grupo social como se fosse normal não poderia mais ser aceito. Mas, para muitos, ainda não é nada demais.
Recentemente, o humorista Renato Aragão foi duramente criticado por dizer que, na época do programa Os Trapalhões, ninguém se incomodava co m as piadas sobre pretos, mulheres e gays. O fato de ninguém se incomodar mostra como a violência simbólica era aceita.
Isso tem muito a ver com o fato de a própria Câmara de Curitiba hoje ter apenas um vereador negro entre seus 38 integrantes. Visto como inferior, o negro era excluído. O mesmo com as mulheres: sendo 50% da população, elas não representam 20% do plenário. E não há um homossexual assumido na Câmara.
O mesmo se repete em outros parlamentos e em outras instituições. A naturalização do preconceito impede que ele seja combatido e prorroga eternamente seus efeitos. Por isso a importância de discutir tudo isso.
Hoje, isso não pode se repetir. E os representantes da população têm de ser os primeiros a mostrar que entenderam o recado. Estão na vitrine e, principalmente quando estão no exercício da função, devem ter comportamento exemplar.
Piadinhas que tenham o mínimo viés racista não podem ser aceitas. Não mais.
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