Na semana passada, a pressão da bancada religiosa impediu que o Congresso votasse uma medida impondo uma quarentena a líderes religiosos que queiram disputar eleições. A Comissão de Reforma Política da Câmara discutia um item que previa seis meses de afastamento do púlpito para padres, pastores, ministros e quaisquer outros sacerdotes antes da eleição. Os deputados evangélicos não deixaram nem que o assunto fosse a votação.
Hoje, um radialista que queira ser candidato, por exemplo, precisa abandonar o microfone seis meses antes do dia da eleição. mas pastores e padres podem usar o microfone até a véspera da votação. Não precisa haver estudos mais aprofundados para perceber que isso os coloca em uma posição de vantagem imensa em relação aos concorrentes. O sujeito que ouve o candidato não só fica exposto até o último minuto à pregação como associa o discurso do candidato à palavra de Deus.
Um dos pastores-deputados disse que não seria justo exigir dos religiosos a mesma quarentena que se pede hoje de um prefeito, por exemplo. Por conveniência parece ter se esquecido que a mesma cobrança acontece com os comunicadores. Não é à toa que a bancada evangélica tem hoje 87 deputados, mais do que qualquer partido. E com a legislação indo no caminho que vai, a tendência é aumentar ainda mais rápido.
A cada vez que os religiosos conseguem colocar mais representação no Congresso eles aumentam um pouco mais seu poder sobre a própria legislação eleitoral, cada vez mais favorável à sua permanência. Agora, o próprio Judiciário já demonstra preocupação com isso. Gilmar Mendes, do STF, disse que os tribunais precisariam diminuir a influência das igrejas sobre o processo eleitoral.
“Depois da proibição das doações empresariais pelo Supremo Tribunal Federal (STF), hoje quem tem dinheiro? As igrejas. Além do poder de persuasão. O cidadão reúne 100 mil pessoas num lugar e diz ‘meu candidato é esse’. Estamos discutindo para caçar isso”, disse à Reuters em março.
De fato, agora, com a proibição de financiamento de empresas, quem tem público cativo, que não depende de grandes recursos financeiros para chegar à população, vai ter uma vantagem imensa. E os pastores sabem disso. Tanto é que em 2016, primeira disputa depois da proibição do financiamento empresarial, o número de candidatos pastores subiu 25% no país.
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