Greve geral em Curitiba. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo.| Foto:

Meu amigo Leandro Narloch publicou um texto para defender as reformas do governo Temer que tem a sua tradicional marca do “politicamente incorreto”. O argumento vai basicamente na seguinte linha: a população está contra as reformas, mas a população não entende nada do riscado. E, numa tirada narlochiana, chega à conclusão de que o povo não gostar do que está em pauta é um argumento a favor das propostas.

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Embora o texto tenha seu lado engraçado, as reformas são sérias e mexem com a vida de muita gente. E claro que o Narloch sabe disso. Do ponto de vista dele, porém, os eleitores podem não saber que, no fundo, o remédio é amargo mas é o melhor para a economia. Com menos CLT, haverá mais empregos. Com uma previdência mais leve, o déficit para de crescer e sobra mais dinheiro para fazer o resto.

Não é um argumento maluco. Cada um tem o direito de ver as reformas e a economia como bem entender. Mas é preciso que fique claro que esse argumento parte de um pressuposto combatido por muita gente boa. Inclusive por muitos bons economistas. A ideia de que a condução da economia (e até da política) deve ficar na mão de especialistas. E que ao povão, aos leigos, cabe baixar a orelha e ouvir quem entende do assunto.

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Esse é o mesmo tipo de argumento que defende a independência do Banco Central, por exemplo. É o argumento que diz que economia é uma ciência tão complexa que não deveria ficar nas mãos de pessoas sem uma formação muito específica (curiosamente não se reivindica o mesmo em relação a saúde, educação e outras áreas tão cruciais quanto a economia). Como se a democracia tivesse um limite: governem essas coisas de cá; as de lá estão fora do entendimento de vocês, por isso não se metam.

Mas isso, evidente, vai contra o próprio princípio da democracia, que pretende dar à população a capacidade de escolher o que quer fazer – inclusive e principalmente com o fruto do seu trabalho, com os impostos. Quem é que tem o direito de dizer que a gente não pode palpitar sobre isso, ou que a opinião dos eleitores deve ser simplesmente desconsiderada?

Economia não é uma ciência exata. Se um eleitor disser que 2 + 2 dão 7 ele está errado e pronto. Na economia, não é assim. Duas pessoas podem ter visões diferentes do que deve ser feito e não é necessário que uma delas esteja certa e a outra, errada. Economia, nesse sentido de “o que vamos fazer com o dinheiro que arrecadamos dos cidadãos” é muito mais uma questão política do que científica. Só disfarça isso de ciência pura quem quer deixar o povão de fora da disputa política, calado porque leigo e incapaz.

Se o povo é contra as reformas isso deve ser levado muitíssimo a sério. Se o povo é contrário às reformas, só resta dizer: “Abaixo as reformas”. Ou que se convença a população do contrário.

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