O senador Roberto Requião não compareceu à sabatina da Gazeta do Povo. Claro, tem todo o direito de ir ou de não ir aonde quiser. No dia da sabatina, disse que a dor na perna quebrada o impedia. Ok. Mas não é só isso. Por duas vezes, em eventos de campanha, havia avisado que não iria participar da entrevista. “Às vezes o debate é um cadafalso”, falou. Mesmo assim, sua assessoria, na semana que antecedia a sabatina, e já sabendo da fratura na perna, confirmou a presença dele. No dia, não foi.
É claro que não foi só pela perna: a reportagem se ofereceu até mesmo para mandar todas as pessoas até a casa do senador. Ele recusou. E no mesmo dia saiu para o interior e viajou por Cianorte, Umuarama e sabe-se lá mais onde com a perna na bota ortopédica. Até aí, faz parte do jogo. Não quer ir, não vai. E pronto.
No entanto, no domingo, indignado pelo fato de o jornal ter dito que ele não compareceu e por ter publicado as perguntas (sem resposta), Requião armou um pequeno carnaval na internet. Ao lado de um jornalista amigo, que lia as perguntas para ele, Requião disse que daria uma “sapecada” em cada uma das perguntas. Chamou as questões de “safadas”, “idiotas” e “furrecas”. E, claro, botou o seu galo de borracha no jogo, para “comentar” as perguntas. Fuóóóó!
Ainda assim, vá lá. Mas o que não se pode aceitar é que, para dizer que as perguntas são “safadas”, Requião tenha faltado com a verdade. Uma das questões, por exemplo, dizia quem em 2009, os telefones do Projeto Povo, segundo levantamento do jornal, não funcionavam. Requião disse, simplesmente, que em 2009 não era mais governador. Que o governador era Pessuti. Na verdade, Requião deixou o governo em 1.º de abril de 2010, um ano depois.
Confrontado com dados do Datasus, sistema oficial do governo federal, sobre segurança, disse que eram “informações sem credibilidade”. E disse que, ao responder as perguntas no conforto de sua “TV 15”, estava sendo transparente, como se fosse o equivalente a participar da sabatina no jornal. Ora, obviamente, não é.
Requião disse que Beto Richa se saiu mal na sabatina. Pode ser. Mas ele e Gleisi Hoffmann participaram do debate ao vivo, com pessoas experientes em sua área podendo contestar as respostas. Um debate. Uma entrevista. Uma sabatina. Ao fazer as perguntas serem lidas por um amigo e respondê-las sem poder ser contestado, Requião deixa claro que prefere evitar o debate sério, com direito ao contraditório.
Durante todo o tempo, Requião insistiu que o interesse da sabatina seria atacá-lo porque ele teria cortado verbas do jornal. Eis o pensamento de quem não aceita a contestação: se alguém não aceita sua versão, se não adula, se não baixa a cabeça, só pode ser vil, só pode ser por má fé. Por “Mamon”, como diz o senador.
Mas ele mesmo se contradisse ao afirmar que Richa deu dinheiro ao jornal e foi vítima da mesma “malcriação”, da mesma “canalhice” (uma malcriação e uma canalhice entrevistar um governador, vejam só). Os três candidatos foram tratados do mesmo modo. As perguntas, como qualquer leitor pôde ver, não eram para “facilitar” para alguém,. Eram questões importantes sobre a vida política e os projetos de cada um.
Requião usa o tipo de argumento que, classicamente, é o mais batido para evitar ter de fazer um debate sério. Desqualifica a pessoa. Rebate agredindo quem não está do seu lado. Ele já deixou claro como pensa. Amigo é amigo, e fdp é fdp, disse em uma entrevista. A imprensa não está aí para ser amiga de políticos. Portanto, no ideário de Requião, só lhe sobra um papel. É uma pena. Ele poderia optar pelo debate. Preferiu seu eterno solilóquio e a autopropaganda. Viva o galo Ezekias. Fuóóóó!
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