Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta, na Gazeta do Povo:
Gustavo Fruet e Beto Richa estão fazendo uma competição para decidir qual dos dois é o governante com menor criatividade. O primeiro que tiver uma boa ideia e implementá-la, perde. Richa chegou ao terceiro ano de seu mandato com uma administração absolutamente sem novidades. Fruet parece seguir pelo mesmo caminho do imobilismo e da falta de planejamento, embora no caso dele ainda haja a desculpa de que se passaram “apenas” quatro meses do mandato de prefeito.
Antes de pegar a sua bicicletinha para tomar posse, Fruet dizia que o mandato de quatro anos é uma “maratona” e que não adianta fazer as coisas como se fosse uma corrida de cem metros rasos. É justo. Isso não justifica, porém, que alguém que estava há 12 anos pedindo, quase implorando, para ser prefeito de Curitiba chegue lá sem ter nada para mostrar nos primeiros meses de trabalho. Pelo menos de dois anos para cá, quando saiu do PSDB já para preparar a candidatura, Fruet tinha a obrigação de ter construído um plano sólido de trabalho que lhe permitisse agir desde o primeiro dia. Pois é.
Até aqui, a obra mais notável do prefeito foi despintar as faixas de ciclistas no Centro e mandar repintá-las no Centro Cívico. Não há registro de que esse fosse um ponto central do plano de governo de Fruet, mas é o que ele tem para mostrar. Ah, claro, também há o destacamento da Guarda Municipal para atender cachorros.
De resto, a coisa funciona assim: alguém reclama (principalmente se for alguém com influência, da classe média para cima) e o objeto da reclamação é suspenso. Calçadas de granito causaram chiadeira: Fruet mandou suspender. Não querem que se mexa na Praça do Japão: Fruet mandou parar tudo. O metrô não é consensual: estude-se o assunto por tempo infinito. Tomara que ninguém reclame da coleta do lixo, senão já viu.
Richa é o retrato do imobilismo. Seu grande projeto até o momento foi a inserção de comerciais na tevê mostrando uma força-tarefa fabulosa de policiais invadindo bairros na cidade. São as UPSs. Na vida real, quando o câmera vai para casa e o filme já está em rede de tevê, ficam dois PMs no meio de uma vila imensa. Eles montam guarda sentados em um contêiner, com uma viatura do lado.
Tudo no governo, quando não é fantasia, é mera continuidade. Quando se vê uma ideia que parece nova, basta escavar um pouco e se descobre que é mais um projeto copiado de Minas Gerais, terra do político favorito de Richa, Aécio Neves. Desde os contratos de gestão até o bilionário Tudo Aqui, tudo vem de Minas, tudo vem de Aécio. É como nos anos da Guerra Fria: na época, o que era bom para os Estados Unidos, era bom para o Brasil. Agora, o que é bom para Minas, é bom para o Paraná. De resto, o grande trabalho de Richa parece ser mesmo o de atrair cada vez mais partidos para o seu governo. Cooptou quase todos. Por sua sorte, sempre há gente criando mais legendas, e assim dá para negociar mais.
Espera-se, se nada mais servir de estímulo, que pelo menos o ano eleitoral e a necessidade de votos faça com que os dois governos se mexam um pouco mais. Está mais do que na hora.
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