Beto Richa diz já no segundo parágrafo do texto da agência oficial de notícias de seu governo que não cortou secretarias e cargos “apenas” como medida de contenção de gastos. Fez questão de frisar (e a agência provavelmente fez questão de dar destaque à frase) porque esse é o tom que quase certamente todas as notícias sobre o assunto darão. E não é para menos.
Richa parece estar acuado no governo. Está no fim do terceiro ano de mandato. Em campanha, disse que era possível fazer “mais com menos”. Prometeu “fechar as torneiras do desperdício”. Elegeu-se com um discurso de gestão moderna e eficiente: contratos de gestão, menos gastos desnecessários. Afirmou que não iria aparelhar o estado com a “companheirada”.
A base de seu programa parecia ser a de que os demais governantes e concorrentes ao cargo não sabiam bem o que fazer com o dinheiro disponível. Desperdiçavam, e por isso nunca tinham o suficiente para fazer o necessário. Reclamavam, quando o que era preciso era dar um “choque de gestão” para liberar recursos e alocá-los onde realmente faziam falta. No entanto, no governo, não conseguiu fazer isso.
Todas as notícias sobre as condições financeiras do estado ao longo dos últimos três anos falam em penúria, falta de condições, necessidade de reestruturação. Richa começou a dar a entender que o caixa não era suficiente. Foi atrás de empréstimos. Por razões políticas e administrativas, ainda não conseguiu liberá-los. Com o dinheiro que tem, não conseguiu apresentar cartões de visita significativos para a tentativa de reeleição, que começa já daqui a oito meses.
Começaram a surgir tentativas de conseguir dinheiro: conseguir os depósitos judiciários antecipadamente, congelar salários, adiar obras, mudar o status da tevê estatal para liberar o dinheiro dos cachês… Tudo fazendo parecer que o governo está falido. Parado.
E apesar disso Richa demorou dois anos e nove meses para diminuir o estado, que continuou inchando. O governador criou secretarias (da Copa, de Governo, de Cerimonial); nomeou amigos e correligionários para cargos em comissão até atingir o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal; chegou a 31 secretarias de Estado (apenas oito cargos a menos do que o criticadíssimo governo federal).
Agora, chegou a hora de cortar. Richa diz que é para modernizar a gestão do estado e melhorar serviços. Não parece fazer sentido. Como melhorar serviços com menos funcionários? Parece mesmo um corte de gastos necessário. No entanto, pode ter vindo tarde demais.