O mesmo tipo de pensamento que levou Curitiba a fechar um guarda-volumes para moradores de rua leva o Rio de Janeiro a anunciar que vai fazer triagem para saber quem tem direito de ir às praias da zona sul. O pensamento é que certas partes da cidade não são para os mais pobres.
O governo de Marcelo Crivella anunciou que os ônibus que vão de regiões distantes para Copacabana, Ipanema e Leblon, por exemplo, vão ser investigados para saber se lá dentro há pessoas sem documentos e sem dinheiro. Coronel Paulo Amêndola, o responsável pela política, explica: se não tem dinheiro, como vai voltar? “Vão roubar de alguém!”
Evidente que isso pode acontecer. Mas qualquer ser humano que não desconfie dos outros com base em argumentos tão frágeis (e preconceituosos) consegue imaginar meia dúzia de circunstâncias em que alguém vai à praia sem dinheiro. Inclusive o sujeito pode estar voltando, e não indo – ou essa é uma impossibilidade?
O higienismo social nas praias do Rio de Janeiro não é novidade. O governo de Luiz Fernando Pezão barrava ônibus inteiros no caminho para as praias. Dentro deles, garotos e meninas negros da favela que queriam ir à praia. Quem acabou preso foi o padrinho político de Pezão, Sérgio Cabral, que não roubava joias na praia, mas as comprava no atacado em dinheiro vivo.
Ah, a reportagem da Folha de S.Paulo traz um trechinho do currículo do coronel Amêndola. “Filiado ao PRB, o coronel foi condenado na década de 1980 por sequestro e tortura ao cobrar um cheque sem fundo de um devedor, segundo o ‘Jornal do Brasil'”.
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