Nos últimos dias só se ouve falar na Rússia: dos estádios, dos jogos, da cultura… E a Rússia tem coisas sensacionais: de Pushkin a Dostoievsky, de Tolstoi a Stravinsky. Mas talvez seja também uma boa hora para discutir os problemas da Rússia, principalmente aqueles que têm a ver com a gente.
A Rússia, durante o século 20, foi o motor do principal inimigo do capitalismo, a União Soviética. Todo mundo sabe a história: o que começou como uma aparente utopia de combate à desigualdade terminou num monstro que foi denunciado pelo próprio regime em 1956, no discurso “secreto” de Kruschev.
Mas tudo isso é coisa do passado. Pelo menos em termos. Em certo sentido, é impressionante como a Rússia, desde os tempos dos czares, resiste mais do que qualquer outra sociedade europeia à ideia da democracia. À ideia de que todos são iguais. À ideia de que o soberano deve ser controlado pela população.
São breves e raros os períodos de democracia na Rússia. O último aconteceu (com restrições) no governo de Boris Yeltsin, após a queda da URSS. Yeltsin era um fanfarrão, mas houve uma liberdade no país como nunca se viu – um aprofundamento da era Gorbachev.
Mas pouco depois veio Vladimir Putin. E Putin é outra história… Há quase duas décadas no poder, o ex-agente da KGB não tem qualquer apreço pela democracia. Suas eleições são, no mínimo, contestáveis. Na prática, são encenações. A oposição é “tolerada”. E o regime se parece bastante com uma ditadura.
Leia mais: Irmão de Beto Richa desiste de candidatura a deputado
Putin foi duas vezes presidente. Quando não podia mais, virou primeiro-ministro, com um presidente para chamar de seu. Assim que pôde, se apossou de novo da presidência, e parece que só vai sair de lá por obra da biologia. Fora isso, seus poderes são infinitos.
E Putin é o que de mais longe há do liberalismo num governo europeu. Seu mentor, o filósofo Alexander Dugin, diz para quem quiser ouvir que o liberalismo não é o modelo a ser seguido. (Liberalismo aqui sendo entendido como o modelo político em que cada um pode escolher como viver e não cabe ao Estado se meter nisso.)
A Rússia de Putin é o que de mais século 19 existe em países industrializados hoje. Mulheres? Uma lei recente aprovou o direito de os maridos darem uma surra por ano nas esposas, desde que não machuquem demais. Gays? A “propaganda” da homossexualidade é proibida por lei, e você pode ir preso por isso.
Na política externa, Putin acredita que a Rússia tem direito de invadir vizinhos que são Estados “falsos”, que historicamente sempre pertenceram aos czares. Já invadiu a Crimeia, patrocina um conflito com a Ucrânia e não parece impossível que continue avançando com seus Anchluss.
Se alguém não faz o que Putin quer, amanhece contaminado por plutônio. Se há eleições em outro país e um candidato lhe desagrada, ele manipula a eleição alheia. E se tentam limitá-lo, ele responde com uma corrida armamentista insana – recentemente, anunciou mais armas nucleares, e mais potentes…
A Rússia é o país da Copa. E ali vemos o que há de mais moderno no país. Mas no fundo, no fundo, o país continua sendo, como sempre foi, o maior símbolo do atraso no continente.
STF e governistas intensificam ataques para desgastar Tarcísio como rival de Lula em 2026
Governo e estatais patrocinam evento que ataca agronegócio como “modelo da morte”
Pacote fiscal pífio leva Copom a adotar o torniquete monetário
Por que o grupo de advogados de esquerda Prerrogativas fez festa para adular Janja
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS