O secretário de Fazenda do governo do estado, Mauro Ricardo Costa, disse em entrevista ao repórter Euclides Lucas Garcia, que as contas do Paraná poderiam estar em equilíbrio já em junho deste ano. Para isso, bastaria ter aprovado o pacotaço de ajuste fiscal em fevereiro. Não aconteceu porque os servidores públicos – especialmente os professores – impediram. Com razão: o pacote cortava direitos e punha em risco o ParanáPrevidência.
Agora, segundo Mauro Ricardo, as contas estarão em equilíbrio só no fim de 2015. Isso, claro, caso os deputados aprovem o “novo pacote”, suavizado, em breve. Ou seja: pelo discurso do novo governo, que confia no plano de Mauro Ricardo para botar a casa em dia, a situação é mais ou menos simples. Trata-se de aprovar algumas medidas saneadoras, diminuir despesas, aumentar receitas e pronto. Em alguns meses (quatro a seis, pelas contas dele) nada mais de trabalhar no vermelho. De contar centavos.
E aí fica uma pergunta óbvia que precisa ser respondida não pelo novo titular da Fazenda, que chegou agora. Mas ao governador Beto Richa. Se a questão era fazer uma reforma como essa, por que não se fez antes? O governo do estado vinha fazendo água há muito tempo. Prova disso não falta: desde a dívida gigantesca com fornecedores, que se acumula pelo menos desde 2013, até a falta de pagamento de precatórios e o adiamento de pagamento de benefícios dos trabalhadores.
Mauro Ricardo não estava no governo. Mas Beto Richa estava. Se agora a reforma pode dar resultados em quatro meses, provavelmente, se feita antes, podia resolver o buraco ainda mais rapidamente – pelo simples fato de que ele não seria fundo como é hoje. Há uma lei que deve ser seguida não só por governantes: se você vai precisar fazer algo desagradável, o melhor é fazer o quanto antes, para evitar que precise fazer uma coisa ainda mais desagradável. Ou mais grave.
Richa deixou, propositadamente ou não, o buraco se ampliar. Por um lado, é difícil crer que um governante faça isso de propósito. É fácil entender que quanto melhores as finanças do estado, mais se faz obras, menos se atrasam pagamentos, mais o eleitor fica feliz. Mas, por outro lado, Richa talvez simplesmente não tenha desejado admitir que o buraco existia. Por outra regra básica (e terrível) da política: pega mal admitir erros. Ainda mais à beira da reeleição.
Principalmente, no caso de Richa, admitir um problema desses seria grave porque o governador se elegeu prometendo uma “gestão moderna”, empresarial. Dizia que faria “mais com menos”. Daria um “choque de gestão”. Se admitisse que, em seu mandato, as contas públicas afundaram, estaria revelando o fracasso de sua gestão, a falha em fazer aquilo que tinha vendido como garantido.
Quando fez a sabatina da reeleição na Gazeta do Povo, no segundo semestre de 2014, Beto foi enfático: o estado não estava quebrado. Um estado sem dinheiro não teria feito tais coisas – e enunciava várias pequenas obras de seu primeiro mandato. Ele não sabia do óbvio? Ou, mais provável, sabia e não queria admitir? Nos dois casos, a situação é extremamente grave.
Se o governador não fez as reformas antes, se não cortou gastos por não saber que isso seria necessário, se não tentou aumentar as receitas e pôs toda a culpa na falta de empréstimos do governo federal – nesse caso, pecou por incompetência. Se sabia e não fez para não atrapalhar a reeleição, pecou por omissão. Nos dois casos, colaborou para criar um buraco ainda maior. E agora nos pede paciência e esforços coletivos para que façamos o sacrifício necessário.
Tivesse feito as coisas antes, Richa teria evitado tratoraço,regimes de urgência, calotes e talvez não precisasse ir com tanta sede ao erário. Mas teria colocado em risco sua reeleição. Tomou sua decisão. Agora, paga o preço – e quer dividi-lo com todos nós.
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