Quando o impeachment foi votado na Câmara, chamou a atenção o alto número de parlamentares com pendências com a Justiça. No Senado, a situação não é diferente. Segundo levantamento da ONG Transparência Brasil, 58,7% dos senadores são citados pela Justiça. A proporção de parlamentares “enrolados” com a Justiça é maior entre os favoráveis ao impeachment.
Entre os 80 senadores em exercício do mandato (já desconsiderando Delcídio do Amaral, cassado ontem), 47 são citados em processos que tramitam na Justiça. Destes, 41 já abriram seus votos. 31 deles são favoráveis à saída de Dilma Rousseff, de um total de 50. Isso significa que 62% dos senadores pró-impeachment tem problemas com a Justiça.
Dez são contrários, de um total de 20 – a exata metade. Os outros seis não se pronunciaram ainda, incluindo nessa lista o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) – que não vota nesta quarta-feira (11), por presidir a sessão.
Ainda que isso possa ser usado como argumento contra o impeachment, a bem da verdade, isso nada diz sobre o processo. Esse dado expõe, sim, o estado geral da política brasileira – com Dilma ou sem Dilma. O problema da corrupção e da inidoneidade no espaço público não é um problema exclusivo de um partido, e sim de todo o sistema.
Claro, é preciso ter um certo cuidado antes de condenar automaticamente todos os senadores. Em muitos casos, é provável que sejam inocentes, ou que sejam questões menores. Por outro lado, não ser citado na Justiça não significa, obviamente, que um senador nunca fez nada de errado. Ainda assim, é uma métrica razoável para verificar o grau de deterioração do Congresso.
Paranaenses
Entre os paranaenses, a proporção é inversa. Os dois senadores que votam contra o impeachment, Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB), aparecem na lista dos citados.
Gleisi é citada no levantamento por dois casos: um, pouco relevante, é um processo do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no qual a senadora foi condenada por gravar programa eleitoral em prédio público. O outro, gravíssimo, é a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que analisa sua suposta participação nos esquemas investigados pela Operação Lava Jato.
Já Requião é citado no levantamento por ser alvo de ação de improbidade administrativa, que tramita no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), em ação civil pública movida pelo MP por suposto mau uso da TV Educativa e por pagamento de encargos especiais supostamente indevidos a servidores efetivos, em ação que tramita no Tribunal de Contas (TC).
Álvaro Dias (PV), favorável ao impeachment, aparece sem ocorrências na Justiça e no Tribunal de Contas no levantamento do Transparência Brasil.