Da coluna Caixa Zero, da Gazeta do Povo:
Somos uma sociedade sem muitas utopias. A ideia do socialismo já não tem mais muitos adeptos, nem qualquer outro plano mirabolante que pareça transformar o país de uma hora para outra. Nem mesmo o sonho de certa direita de viver num lugar sem Estado (ou com o mínimo possível) cola muito. Por um lado, pode ser ruim: corre-se o risco da desilusão e do cinismo. Por outro, o efeito pode ser bom: temos de aprender a fazer o possível com o que temos à mão, sem a cabeça na lua ou em algum manifesto.
Neste mundo “pé no chão”, além de garantir direitos e de manter a democracia, o máximo que o eleitor ousa sonhar é ter o dinheirinho de seus impostos bem administrado. Em 68, Habermas já havia percebido isso: com o fim da ideologia, teríamos no governo a sucessão de equipes de burocratas. Em junho passado, nas ruas, parece que foi isso que se gritou. Que se o que nos restou foi a burocracia, que pelo menos tenhamos bons burocratas. Que não sejam ladrões, nem perdulários. Nem gastem em futebol o que poderia ser posto em algo mais importante.
Se tudo isso está certo, o ano de 2014 começou com notícias de deixar mesmo o menor dos sonhadores desanimado. Em quatro semanas, eis o resumo do que se passou. A Fifa decidiu que Curitiba precisa se apressar para ter a Copa. E o Atlético disse que essa pressa nos custará mais R$ 53,6 milhões. É o tal padrão Fifa, que tanto sucesso fez nas ruas e que certamente será lembrado durante a Copa.
O governo do estado anunciou, como se pouca coisa fosse, que está devendo R$ 1,1 bilhão para seus fornecedores. Deve, não nega e paga se um dia entrarem empréstimos em seu combalido caixa. Caso não entrem? “Pensamos sempre no melhor cenário”, responde o otimista líder de Beto Richa na Assembleia Legislativa, Ademar Traiano. O manual da boa administração recomenda também que se levem em conta os piores cenários. Quem pensa que tudo sempre irá conforme o plano gasta por conta e depois fica sem pagar o que deve.
A prefeitura de Curitiba também começou a fazer planos para o dinheiro do contribuinte. Transformaria o atual estádio do Paraná Clube, a Vila Capanema, em um Centro Administrativo por meros R$ 450 milhões. Os gestores fazem lá suas contas para tentar convencer de que, apesar de parecer muito, o meio bilhão sairá praticamente de graça. Deixa-se de pagar R$ 40 milhões em aluguéis, economiza-se em pessoal de portaria e em gasolina e voilá! Em 15 anos (quatro gestões) tudo estará quitado. Um detalhe: o nosso IPTU passará a pagar a construção de um estádio para o Paraná Clube. E a prefeitura nem sabe quanto isso custaria. De graça, não é.
A Câmara de Curitiba entrou no embalo e já fala em construir um novo prédio no mesmo local. Seriam R$ 40 milhões. O presidente Paulo Salamuni jura que não se trata de desperdício: que a sede atual está em situação calamitosa e que só por sorte os basculantes não caíram na cabeça de ninguém. Diz entender que a população também tem outras necessidades, mas que a Câmara precisa de um local decente e que tem orçamento para isso. Pode ser. Quem julgará, como nos outros casos, é o contribuinte. Que esse ano tem o título de eleitor nas mãos.
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