Para quem perdeu, ponho aqui a coluna Financês, desta terça, do Franco Iacomini, na Gazeta. É para a gente que vive reclamando de impostos altos. Ele mostra que, mais do que isso, deveríamos nos preocupar com as selvagens margens de lucro cobradas pelos empresários. Mas é melhor deixar isso para o grande Franco. Vejam lá;
Na semana passada, encontrei-me com jornalistas da América Latina em um evento ligado ao setor de tecnologia. A certo ponto da conversa, um colega argentino me perguntou por que razão os brasileiros são tão loucos por compras quando viajam – um fenômeno que nós conhecemos, mas que eu não sabia que era assim tão público. “São os impostos”, comecei a explicar. “São muito altos no Brasil, e fazem com que os produtos industrializados custem muito caro por lá.” E passei a citar o exemplo de um videogame que, nos Estados Unidos, custa pouco mais de US$ 200. “No Brasil custaria uns US$ 300”, ele cortou. “Não. Dificilmente você acharia por menos de US$ 500”, respondi.
Ele ficou surpreso. Eu também, e não foi por causa do número em si. Foi porque me toquei que a explicação convencional, que todos estamos acostumados a ouvir e a dar, é falsa. Convenhamos: por maiores que sejam os impostos brasileiros, eles não vão triplicar o preço de um produto. Não sozinhos. E a questão não se limita aos eletrônicos, é até pior quando se fala em roupas: um moletom que custa R$ 40 nos EUA sai por R$ 288 em uma loja aqui de Curitiba. Como? Por quê?
Conversei a respeito com o economista Fábio Araújo, professor da PUC, e repeti a pergunta do hermano: porque os brasileiros compram tanto no exterior? Para ele, há dois elementos que explicam a situação. Um é psicológico, outro é econômico. A questão psicológica diz respeito ao nosso passado – produto bom vem do exterior, não é aquele feito aqui. Pensamento típico de colônia, afinal, quando o Brasil era uma dependência portuguesa, os melhores produtos eram mesmo destinados à corte, e não àquela distante terra de selvagens, o Brasil.
Já o componente econômico é aquele que nós conhecemos muito bem: é bem mais barato comprar no exterior do que em casa. A causa desse fenômeno inclui o problema dos impostos e, principalmente, a margem de lucros. “As margens aqui são muito maiores do que nos Estados Unidos, por exemplo”, observa Araújo. “Nos Estados Unidos, as margens médias estão entre 7% e 8%. É fato a ser comemorado quando alguma empresa consegue uma margem de dois dígitos. Aqui, ninguém sai de casa por menos de 30%.”
Nos últimos anos, a economia brasileira passou por uma transformação e tanto. O país cresceu, o número de pessoas aptas a consumir aumentou, a inflação acabou, os juros baixaram (estão maiorzinhos agora, mas é consenso que este é um movimento que não durará mais do que um ano). Mas a margem de lucro, que era enorme para dar aos empresários uma compensação por fazer negócios num ambiente tão louco como era o Brasil dos anos 80, por exemplo, ficou lá em cima.
Pode até haver razões para ela ter-se mantido alta. Uma delas é justamente a ampliação do mercado, que manteve a demanda em alta. Outra é a disposição de uma parte do público em pagar valores altos. Preço é assim: se o consumidor aceita, porque o vendedor iria baixar?
É muito conveniente para o empresariado pôr a culpa no governo e na sua fome por arrecadação. Mas ele não é o único culpado pelos preços altos que você, leitor, paga no shopping e no hipermercado. “O governo tem de fazer a parte dele, mas o empresário tem de se acostumar com uma situação em que o lucro não vem de margens enormes, mas de volumes de vendas maiores”, diz Araújo.
Noutras palavras: se a ganância for menor, o preço baixa, vende-se mais e todo mundo fica contente.