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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Os moradores do Capão Raso continuarão convivendo com as valas a céu aberto. Mas se pegarem o expresso para o Água Verde encontrarão um bairro em condições impecáveis. E lá poderão assistir sem problemas ao embate entre Equador e Honduras. O metrô não ficará pronto até a Copa, claro. Mas o ônibus está lá desde 1974, ano da Copa do Mundo na Alemanha, e servirá ao propósito, ainda que entulhado de gente.

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Quem mora no Osternack continuará convivendo com a falta de ruas pavimentadas, de iluminação e de policiamento. Mas o habitante local poderá igualmente se deslocar até a multimilionária Arena da Baixada e assistir a Irã e Nigéria em um assento confortável e com iluminação de primeira. O poder público fez questão de garantir que milhões de reais fluíssem ininterruptamente para as mãos de Mário Celso Petraglia de modo que o estádio esteja tinindo.

Quem está acostumado com a violência das ruas de Curitiba (e com a violência nos estádios de futebol) vai precisar seguir tomando os mesmos cuidados: evitar os pontos em que todo mundo, menos a polícia, sabe que se vendem drogas ao ar livre, por exemplo. Mas durante as duas horas em que Rússia e Argélia estiverem em campo, em 28 de junho, o cidadão estará tranquilo, desde que esteja do lado de dentro do estádio.

O secretário Mario Celso Cunha, especialmente designado para cuidar da Copa do Mundo em Curitiba, garante que haverá segurança porque o torcedor que vai à Copa é “diferenciado”. Ou seja: o problema de Curitiba é que a cidade como um todo tem muita gente não diferenciada, se é que você me entende. Não é a falta de policiamento ou o tráfico de drogas correndo solto.

Um dia será preciso fazer, a sério, uma conta de quanto Curitiba está gastando para receber os quatro jogos da Copa do Mundo. Hoje, aparentemente, isso é um mistério. Sabia-se do preço astronômico da Arena, que rapidamente saltou de R$ 90 milhões para R$ 265 milhões (lembrem sempre que o mesmo Mario Celso Cunha já avisou que o calote do clube na parte emprestada são favas contadas). Recentemente, descobriu-se um extra de R$ 61 milhões, mas, ora, não se preocupem, isso eram só umas obrinhas no entorno.

Há ainda as obras em várias partes da cidade e que supostamente se destinam a facilitar a vida de quem vier para ver Austrália e Espanha. Como o malfadado viaduto estaiado a preço de ouro na Avenida das Torres. Ou uma reforma que estava marcada para a Cândido de Abreu e que ninguém conseguiu mostrar o que tinha a ver com a Copa.

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Sempre se discute qual será o legado da Copa para as cidades. Em Curitiba, teremos descoberto algumas coisas. Por exemplo, que quando se quer, mesmo que seja para algo inútil, aparece dinheiro de todo lado, inclusive por meio de soluções mágicas como a destinação de títulos de potencial construtivo ou empréstimos generosos que pagaremos ainda por muitos anos após o apito final da Copa.

Pena que nossos gestores só estejam interessados em fazer esse tipo de esforço quando o que está em jogo é um dia de lazer num estádio privado. Se fizessem metade disso para resolver os reais problemas da cidade, não haveria mais uma casa sem saneamento básico por aqui. Mas a prioridade, claro, é o gramado da Arena.