Há muitos meios de fazer sangrar o erário. A corrupção, embora seja o mais temido, não é o único e, muitas vezes, nem é o mais ardiloso. O pior, as vezes, são os meios “legais” de repassar dinheiro dos contribuintes para um cidadão particular. Faz-se a lei, o que é imoral passa a ser legal, e fica difícil até mesmo questionar o processo.
Eis, por exemplo, que uma pessoa passa 36 dias como governador do estado em função de o titular ter morrido e ser necessário um tempo até as novas eleições. Por esse serviço à população, ele recebe mensalmente, até o fim da vida, por décadas a fio, uma aposentadoria de R$ 26,5 mil. Sem ter contribuído com um centavo. E, quando morre, os pagamentos passam para a viúva, também vitaliciamente.
O caso ocorreu realmente com o ex-governador João Mansur, que teve seu mandato há 42 anos. No total, como mostra reportagem de hoje nesta Gazeta, 12 ex-governadores ou viúvas recebem o presente mensalmente. Um sistema de evidente imoralidade, já que ninguém contribuiu para ser aposentado desse modo. O que leva a que se dê o nome fantasioso de “verba de representação” para a grana, ao invés de aposentadoria.
O STF tem há três anos ações questionando esses pagamentos. Nesse meio tempo, numa boa virada de mesa, julgou um grande caso de corrupção (o mensalão), avaliado em R$ 100 milhões Mas deixou que continuasse existindo essa imoralidade administrativa e legal, que nesse período de 2011 para cá nos tirou exatamente o mesmo valor, os mesmos R$ 100 milhões.
É preciso combater a corrupção, claro. Mas não nos esqueçamos nunca de que às vezes ela vem com o selinho maldito da legalidade.
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