Fernando Henrique Cardoso acha que Temer não deve cair. Em nenhum momento diz que o presidente é inocente. Que não se elegeu com dinheiro sujo. Que a chapa foi eleita democraticamente. Que o voto deve ser respeitado. Nenhum argumento do tipo democrático.
O argumento é puramente pragmático: ia dar muita confusão. Sabe como é: atrapalha os investimentos. Ia dar na vista que temos instabilidade. Não pega bem no estrangeiro. E a economia ia sofrer ainda mais. (Ganha um doce quem achar FHC defendendo a permanência de Dilma em nome da estabilidade econômica.)
Se Temer se elegeu com dinheiro de cartel, fazer o quê? Se a lei determina que nesse caso o presidente não tem mandato legítimo e seja apeado do cargo, ignore-se a lei. Afinal, a ética e o primado da lei devem vigorar apenas quando for do interesse nacional – e aparentemente FHC e os seus são quem define qual é o interesse da nação.
Os argumentos que os petistas usaram para defender Dilma (e que foram rebatidos com tanta veemência pelos tucanos) começam a ser usados pelos tucanos para defender o tucano honorário Michel Temer – o homem colocado na vaga de Dilma para tomar o governo do PT, adotar as medidas impopulares e entregar a eleição de bandeja para o PSDB – necessariamente nesta ordem.
Vale aquela velha história: para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei. Ou, parafraseando o caso de Somoza, FHC no fundo está dizendo que Temer pode ser sim filho de cartel: mas é um filho de cartel que está do lado dele.
A ética e o respeito à lei não deveriam estar sujeito s cálculos políticos. Ou a cada vez vamos ficar debatendo ad infinitum para saber se é conveniente punir alguém pelo seu crime.
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