Temer decide que volta do país à escravidão é preço justo para manter cargo

Dia desses, numa reportagem que flagrou conversas dos integrantes do MBL, lia-se sobre a Reforma da Previdência: “O Zumbizão tá lá pra isso”. Risos. Se o MBL não agrada a muita gente como ator político, não dá para negar que a meninada anda lendo o cenário nacional como ninguém.

Michel Temer, o Zumbizão, não chegou à Presidência por acaso. Nem foi Deus que o colocou lá. Lembram a célebre frase dita por ele num pronunciamento? Que não sabia como Deus o pôs na Presidência? Pois é: não pôs. Quem o colocou lá foram congressistas interessados em interromper a Lava Jato, empresários interessados em não pagar o pato e a direita cansada de Dilma e do PT.

Mas o Zumbizão (zumbis são mortos-vivos, não é isso?) só tem vida enquanto atender a esse pessoal. Como deve muito na praça, na primeira bobeada segue o caminho de Dilma. Está aí mais uma denúncia que vai ser votada pelo mesmo pessoal que bebeu o sangue da ex-presidente. E se Temer resolver deixar de fornecer o sangue de alguém, vão tomar é o dele.

Os escravos

Todo esse nariz de cera para chegar no absurdo do dia: a nova portaria regulando a fiscalização do trabalho escravo no país. O Brasil passou 388 anos para abolir a escravatura. Agora, há mais de cem vinha caminhando lentamente para evitar formas de trabalho análogas à escravidão. Temer, pela primeira vez em muito tempo, vai no sentido contrário: ao invés de dificultar a escravidão, dificulta a fiscalização.

A portaria, que vai contra o Código Penal, o entendimento da ONU e, claro, o bom senso, foi feita sob medida para a Bancada Ruralista, que pode livrar a cara de Temer ou jogá-lo na masmorra. Em resumo: ou o Zumbizão facilitava a escravidão contemporânea ou perdia o “mandato”.

Como trabalho escravo nunca afetou a vida de Temer (aposentado aos 55 anos depois de trabalhar só debaixo de ar condicionado), o “presidente” achou que não havia muito problema. Afinal, essa gente anda muito folgada mesmo: não querem nem ajudar a flexibilizar as regras da obsoleta CLT, como vão entender que muitas vezes essa história de escravidão é uma balela?

O que muda?

Na portaria, destrói-se a ideia de que a existência de apenas um dos quatro itens previstos é suficiente para caracterizar trabalho escravo (trabalho degradante, jornada exaustiva, trabalho forçado e servidão por dívida). Agora, para que seja libertado, se o problema for um dos dois primeiros itens o sujeito vai ter que provar que não tinha também o direito de ir e vir.

Há mais: o flagrante só do fiscal, como sempre foi feito, não vale mais. Há que se ter um policial junto.

Há mais: agora se o sujeito disser que consentiu em trabalhar dentro de condições análogas à escravidão, fica tudo beleza.

Há mais ainda: a lista suja de empregadores de escravos agora só é publicada por ordem do ministro. O mesmo que assinou essa portaria.

A ordem é mesmo acabar com qualquer legislação de proteção a trabalhadores e direitos humanos no país. Se for para barrar a Lava Jato e restabelecer o consenso da Brasília pré-Dilma (com Senado, com Supremo, com tudo), a volta a escravidão, nos diz o governo Temer, é um preço justo para o Brasil pagar.

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