A liberação de porte de armas para senadores e deputados federais, aprovada em uma especial da Câmara nesta semana, faz lembrar uma época em que era comum que parlamentares não só andassem armados como resolvessem as querelas políticas na base do tiro e da intimidação.
O caso mais famoso foi o do senador Arnon de Mello, pai do atual senador Fernando Collor (PTB-AL), que assassinou um colega em plenário. Foi em 1963. Arnon de Mello tinha uma disputa com Silvestre Péricles, também de Alagoas, e atirou nele. Mas errou.
Quem acabou atingido foi outro senador, José Kairala, que não tinha nada a ver com a briga dos dois. O senador acabou morrendo horas depois em um hospital. Péricles prometeu em seguida que iria matar Arnon de Mello.
A história começou com Arnon de Mello provocando o rival e o chamando de “crápula”. Péricles partiu para cima dele e Arnon sacou a arma. João Agripino, da UDN paraibana, tio do atual senador José Agripino, tentou apartar. Péricles se jogou no chão para sacar a própria arma.
Kairala morreu porque tentou separar os dois enquanto Arnon seguia atirando. Arnon e Péricles foram presos, mas logo soltos e absolvidos. (Não deixa de ser curioso que parte dos envolvidos siga com suas famílias representadas no Congresso…)
Outra cena célebre envolve o então deputado Antônio Carlos Magalhães, avô do atual prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto. Ele resolveu interromper um discurso de Tenório Cavalcanti, o famoso “homem da capa preta”, que não só andava armado como dava um nome a sua arma: a “Lurdinha”.
Cavalcanti acusava um aliado de ACM de corrupção. O baiano retrucou: “Vossa Excelência pode dizer isso e mais coisas, mas na verdade o que vossa excelência é mesmo, é um protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão.”
Tenório sacou a arma e disse: “Vai morrer agora!” ACM revidou dizendo: “Atira, fdp!” Tenório não atirou, e passou para o folclore que ACM molhou as calças em plenário. Mas sobreviveu. Tenório disse para a turma do deixa-disso que não se preocupassem. “Podem sossegar. Só mato homem!”
Seria uma pena, 50 anos depois, descobrir que os parlamentares pensam em voltar a se armar e que a política nacional pode ter evoluído tão pouco em meio século.
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