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Tom Cruise, Francischini e o falso curso “do MST”

Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Quem assistiu ao segundo filme da série Missão Impossível, com Tom Cruise, pode se lembrar de uma frase clássica, já no início da história. “Toda busca por um herói começa com algo de que todo herói precisa, um vilão.” No caso do filme, tratava-se de um vírus e de um antídoto. Mas na política, isso funciona igualmente bem. Quem quer parecer herói aos olhos do público precisa, antes de mais nada, achar um “mal” a combater.

Às vezes isso assume ares trágicos, como no caso de Hitler, que comandou a morte de mais de seis milhões de pessoas que dizia serem o mal da Alemanha. Claro: o mal era ele. Às vezes, a coisa é bem mais banal. Em democracias, por exemplo, é comum que governos mais à esquerda e mais à direita se sucedam, sempre com o discurso de que quem está no poder é que causou todos os problemas de toda a população. Por estranho que pareça, cola.

No Brasil, isso também tem funcionado. O PT chegou à Presidência com os gritos de que o governo tucano era a encarnação do FMI, do arrocho, do neoliberalismo – dizia que todas essas políticas eram a causa da pobreza, da falta de crescimento e da submissão do país a outras nações. Além da grita petista, isso deu voz também a movimentos e partidos mais radicais, como o MST. Agora chegou a hora da inversão de papéis: desgastado, o PT, que sempre se arrogou o título de partido de esquerda, faz surgir um discurso forte de direita no país. Às vezes mais moderado. Outras, nem tanto.

À direita de fundo econômico, soma-se a direita de tipo conservador, representada, entre outros, pelo deputado Fernando Francischini (SD). Depois de ficar famoso como secretário de Segurança que estava no cargo durante a repressão que feriu 213 pessoas em abril, Francischini voltou ao Congresso. E, lá, vem antes de tudo sendo um crítico do petismo, apontando a saída pela direita.

Parece ter sido esse o espírito de um documento que o deputado protocolou na UFPR perguntando sobre uma suposta turma de Direito exclusiva para gente “do MST”. A resposta do diretor do curso, professor Ricardo Marcelo Fonseca, foi dura e sarcástica. Depois de dizer que “todos sabemos” do interesse do deputado pela educação, afirma que não. Que a turma atende assentados da reforma agrária em geral em um programa criado no governo Fernando Henrique Cardoso.

A tentativa de dizer que a universidade é “dominada pela esquerda” não é nova. Elio Gaspari, em sua fabulosa série de livros sobre a ditadura militar, conta que antes do golpe de 1964, que levou a 21 anos de suspensão da democracia, a direita fazia exatamente a mesma crítica. Fazia porque funciona. Porque cola. Mesmo a turma não sendo “para o MST” nem se tratando de doutrinação, e sim de política compensatória para grupos que de outra maneira dificilmente teriam condição de chegar a um ensino público superior de qualidade.

A demonização do “outro” é das estratégias políticas mais eficazes na política. Frequentemente, leva a vitórias pessoais. Justamente por tentar dizer que o outro é um demônio, também leva, ainda mais frequentemente, a fracassos colossais para a democracia.

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