Os julgadores do Prêmio Esso de Jornalismo têm sido sábios em suas escolhas. Nos últimos dois anos, escolheram três projetos para vencer a categoria Melhor Contribuição à Imprensa. Em 2006, ganharam Fernando Rodrigues e a Transparência Brasil.
Os dois projetos eram bem parecidos. Disponibilizavam para o público informações numéricas, principalmente, sobre os políticos brasileiros. Receitas de campanha, emendas apresentadas, presenças e ausências na Câmara dos Deputados, etc.
Este ano, quem levou foi a ong Contas Abertas, como eu já mencionei esses dias. O trabalho também guarda semelhanças com os outros dois: trata-se de descobrir dados numéricos nos orçamentos e nas planilhas de gastos dos governos e trazer à tona.
Nesses tempos de internet e de blogs, a maior parte dos espaços que surgiram para tratar de política acaba se limitando à fofoca, à intriga, à picuinha. O Esso está apontando que o caminho a ser feito é exatamente o inverso. É o do trabalho de formiguinha – não o do falatório fácil.
O Marcelo Soares, que era da Transparência Brasil e hoje trabalha como correspondente no Brasil do Los Angeles Times, tem uma teoria interessante. Ele diz que a imprensa dos blogs de hoje se parece com a dos jornais ideológicos do século 19. Na época, cada veículo pertencia a um grupo distinto e servia estritamente para defender um ideal. Os xingamentos e exageros eram a regra do jornalismo de então.
Com o tempo, acredito que os jornais viram o potencial financeiro do negócio. E passaram a ser mais neutros, para agradar a gregos e troianos – e assim ganhar em público e vendas de anúncios.
A internet traz de novo a possibilidade de acirramento de idéias. Mas os sábios jurados do Esso parecem estar nos alertando, a nós profissionais da área: falem o que quiserem, mas um discurso bem embasado, livre de fofocas e boatos, ainda é o melhor que a profissão pode fazer pela política nacional.
Nota 10 para o prêmio.