Ta-Nehisi Coates, autor de "Entre o Mundo e Eu".| Foto:

Ta-Nehisi Coates é um dos escritores negros mais importantes dos EUA hoje. Não é um “escritor negro” simplesmente porque coincide de ter pele escura: pertence à tradição americana de autores que tratam especificamente da questão racial. Seu “Entre o Mundo e Eu”, uma resposta a James Baldwin 50 anos depois, já virou um clássico.

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Agora, com um artigo na The Atlantic, Coates elevou a discussão sobre o racismo do presidente Donald Trump a um novo patamar. O texto, em formato de ensaio, é um capítulo do novo livro que ele prepara. E é devastador para Trump e seus eleitores.

A base do artigo de Coates é de que Trump baseia toda a sua presidência (assim como baseou sua campanha) na ideia de que é preciso destruir, negar a presidência de Barack Obama. Seus eleitores desde o início entenderam esse recado.

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“É como se a tribo dos brancos tivesse se unido em protesto para dizer, ‘Se um homem negro pode ser presidente, então qualquer homem branco, por mais desgraçado que seja – pode ser presidente'”, escreve ele.

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Coates retraça o perfil do presidente desde a vida de empresário (quando teria dito uma vez que não suportava a ideia de ver homens negros contando seu dinheiro) e chegando à política. E lembra que ele chegou à política com o movimento do “birtherism”.

Trata-se do movimento que questionava o local de nascimento de Obama. Um movimento nitidamente preconceituoso encampado pelas alas racistas do Partido Republicano e pela mídia “alternativa”. E até, em certo grau, pela Fox News.

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Paladino da ideia de que Obama não devia ser americano, Trump, diz Coates, seguiu os passos de seus antecessores racistas que acreditavam que “os negros não são dignos de serem cidadãos do país que construíram”.

Não são só os negros que entram na história contada por Coates. “Trump inaugura sua campanha se colocando como o defensor da virgindade americana contra ‘estupradores’ mexicanos”, diz Coates, lembrando ainda todos os outros atos de Trump contra não-brancos – do muro na fronteira à proibição de viagens para habitantes de sete países islâmicos.

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“Alega-se muitas vezes que Trump não tem uma verdadeira ideologia, mas isso não é verdade – a ideologia dele é a supremacia branca, com toda a sua força truculenta e hipócrita”, afirma o escritor.

O texto mostra como Trump ganhou a eleição com o voto dos brancos. Como evitou ao máximo denunciar David Duke e a Ku Klux Klan. Como depois dos ataques da direita racista em Charlottesville culpou “ambos os lados” pela violência.

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Mas o ponto central era Obama. Era apagar a presidência de Obama. “Para Trump, era quase como se o fato haver um presidente negro fosse uma ofensa pessoal. (…) Substituir Obama não é suficiente – Trump fez da negação do legado de Obama a base de seu próprio legado”.

Leia o artigo completo (em inglês) no site da The Atlantic.

Coates diz que Trump é, em certo sentido, “o primeiro presidente branco dos EUA”. Isso porque chegou à Presidência, ao contrário de todos os outros brancos que a ocuparam, num momento único.

“Trump chegou depois de algo muito mais poderoso – uma presidência inteira de um negão com um plano de saúde negão, acordos climáticos negões e uma reforma judicial negona (…) Trump é realmente algo novo – o primeiro presidente cuja inteira existência política que depende inteiramente do fato de ter havido um presidente negro.”

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E tudo isso foi escrito e publicado antes de Trump comprar briga com atletas negros do futebol americano que se ajoelham durante o hino em protesto contra o racismo e com atletas negros do basquete que não querem visitá-lo na Casa Branca…

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