Receita para um mensalão feliz. Junte dezenas de políticos num Parlamento em que o Executivo precisa de maioria para aprovar suas propostas. Permita financiamento por parte de empresas privadas na campanha. Faça com que o Ministério Público Eleitoral se sinta como se Judiciário fosse: só aja quando provocado. Para terminar, garanta que o eleitor não tenha controle sobre o Legislativo, num sistema proporcional que nunca faça com que o sujeito tenha de prestar contas a um público específico.
Todos os elementos acima estavam presentes em 2002, quando Lula e sua turma chegaram ao poder federal. Depois de amargar décadas de oposição (e de ver escândalos de governo anteriores darem seguidamente em nada), os petistas resolveram que era hora de usar as armas pesadas para subir a rampa do Planalto. Sabe-se hoje que fizeram caixa dois na campanha, que pagaram funcionários da eleição de Lula com dinheiro sujo em contas do exterior e que financiaram um esquema graúdo de compra de votos para ter maioria no Congresso.
Agora, pense bem: qual dos elementos acima sumiu do mapa desde 2002? Nenhum. E não precisa pensar nem mesmo no governo federal. O mesmo se repete nos governos estaduais e municipais. E não escandaliza ninguém a afirmação de que também nesses níveis acontece o mesmo que o STF viu nas contas do PT nacional. Alguns casos, como o do mensalão mineiro do PSDB e o mensalão do DEM< em Brasília vieram à tona (embora não tenham sido julgados com a mesma rapidez). Outros ainda virão. Pelo menos enquanto a regra do jogo não mudar.
O elemento mais danoso de todos parece mesmo ser o de uma fiscalização que não funciona. Todos os grandes esquemas de corrupção hoje no Brasil são desvendados a partir de dentro, porque algum delator, insatisfeito com sua parte no bolo, talvez, abre o bico. Só aí o Ministério Público entra na jogada. Há exceções: às vezes promotores ou a imprensa (mais frequentemente) descobrem o crime antes que a lei do silêncio seja quebrada. Tente lembrar.
Foi assim com o mensalão petista: Roberto Jefferson abriu a boca, mas só depois de já estar no esquema, com uma maleta de R$ 4 milhões. No mensalão do DEM, o delator foi Durval Barbosa. No caso da Alstom, a Siemens se entregou. Pedro Collor e Niceia Pitta são casos de parentes enciumados ou rancorosos. No Paraná, até a queda do nosso únicos governador derrubado, Leon Peres, em 1971, se deveu a uma escuta feita por interlocutor privado.
Ficamos assim: diremos que a prisão dos petistas e asseclas diminuiu a impunidade. E manteremos as exatas condições que geraram o crime intocadas. Prontas para que depois da próxima eleição nos indignemos de novo. O gigante acordará e sairá às ruas. As regras? Ah, essas continuarão as mesmas.