O governo do estado se socorreu da multinacional Renault para trocar o carpê do Teatro Guaíra. A obra, que também inclui restauração de poltronas e troca de cortinas, está estimada em R$ 2,8 milhões. O burocrata da Renault responsável pela parceria diz que isso custará ao estado apenas algumas entradas grátis para funcionários. Claro: a empresa também ganha retorno de marketing: se associa a algo positivo.
Em si, a ideia de parcerias com a iniciativa privada não é ruim. Por ideologia, alguns podem acreditar que não se deve fazer isso: uma pureza estatal seria preferível. No entanto, não há nada intrinsecamente errado com a parceria. Desde que alguns limites sejam respeitados: por exemplo, é preciso dar transparência e dizer quantos “ingressos” a Renault ganhará.
Mas há, sim, alguns problemas a ser discutidos. Um deles é que o governo do estado não deveria depender de uma empresa para algo pequeno como é o caso aqui. Uma reforma de R$ 2,8 milhões deveria ser coisa simples para um governo de orçamento anual de R$ 30 bilhões. Precisar de apoio para trocar cortinas soa mal. Muito mal.
Não é só. Fica também um travo amargo porque parece que o governo do estado nunca tem dinheiro para a cultura. Pior: parece que não tem interesse por cultura. A própria obra do Guaíra aguardava há anos. A orquestra espera melhores salários e mais contratações. Chega aos 30 anos em breve sem ainda ter sede própria. Pelo menos terá cortinas. Mas pagas pela Renault.
Há outros exemplos recentes. O governo deveria fazer anualmente edital de cinema. Não faz. O último que fez, demorou tanto a pagar que o cineasta ameaçou acampar na Secretaria da Fazenda. O governo chegou a falar em fundir a Secretaria da Cultura. E, convenhamos, o governador só foi ao Guaíra para assinar o convênio com a Renault. Alguém vê frequentemente secretários ou outros ligados à gestão assistindo aos concertos no teatro?
Há dezenas de outros exemplos. Fiquemos nesses, por enquanto.
E o que fica é a impressão de que o dinheiro já é curto para outras áreas, e que para a cultura só sai no grito. Ou se vem de terceiros, de multinacionais. Ainda que seja só para trocar umas cortinas. Imagine se fosse para construir um teatro…
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