Era mais ou menos previsível que este dia ia chegar. Mas ninguém tinha como adivinhar o tamanho do furacão – e ele foi gigante. Praticamente todo o núcleo do governo Beto Richa (PSDB) foi preso na manhã desta terça-feira, em duas operações que coincidiram na data, mas tratam de coisas diferentes.
A situação do ex-governador era tão grave, com tantas denúncias sérias, que no momento da prisão já ninguém sabia por qual das acusações ele estava sendo preso. A imprensa se bateu até descobrir que não tinha nada a ver com a Lava Jato, que levou para a cadeia seu braço direito, Deonilson Roldo.
Deonilson foi preso junto com mais duas pessoas por supostamente fraudar uma licitação da PR-323. Coisa de R$ 7 bilhões. Essa é uma fase da Lava Jato assinada por Sergio Moro. Ao mesmo tempo, Beto e a esposa Fernanda estavam sendo acordados para irem presos, mas por outra causa.
Lendo a lista de presos (Ezequias Moreira, Luiz Abi Antoun, Pepe Richa) poderia mesmo parecer o caso da 323. Mas várias dessas mesmas pessoas também aparecem na denúncia (gravíssima) da Quadro Negro. No final das contas, a prisão aconteceu pelo caso das Patrulhas Rurais.
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Na verdade, o núcleo todo do governo parece ter sido preso. Os homens realmente ligados a Beto, que lhe orientavam e serviam de suporte no dia a dia. As pessoas mais próximas: ninguém escapou.
Fato é que com tantas denúncias e com a nova política de Gaeco, Polícia Federal e Justiça de prender preventiva ou temporariamente figurões envolvidos em escândalo, é até de admirar que a prisão de algumas das figuras tenha demorado tanto (o que não significa que sejam culpadas).
No caso de Deonilson, a situação é mais grave. A combinação da licitação é muito evidente, com direito a gravação de áudio e tudo. Imagina-se que seja quase impossível revogar a prisão em breve. Sergio Moro tem como método manter nesses casos o sujeito preso mesmo sem condenação, e por muito tempo.
Deonilson poderia, inclusive, delatar Beto neste caso. E aí o ex-governador estaria encrencado de vez. Mas se mantiver o perfil José Dirceu, resistirá.
O caso das Patrulhas Rurais é bem menos conhecido. Não se sabe ainda direito o que o Gaeco tem contra Beto nesta investigação. Para chegar a prender o governador durante a campanha, certamente os elementos devem ser fortíssimos.
Fato é que o governo Beto, que terminou em abril, entrou nesta terça numa nova fase: desta vez, o que acabou foi o discurso e a memória da gestão. O que acabou hoje, politicamente, foi o próprio Beto Richa.