Daqui a dois meses e mais uns dias, você e mais uma centena de milhões de brasileiros estarão indo às urnas. Entre outras insignificâncias, escolheremos quem presidirá o país pelos próximos quatro anos (ou até o próximo impeachment, sabe-se lá, do jeito que vão as coisas).
E, caso você não tenha reparado, ninguém perguntou a você quais deveriam ser os candidatos. Faltando menos de oitenta dias para a eleição do cargo mais importante do país, nosso sistema permitiu que você não desse um pio sobre o destino da República.
O que será oferecido aos eleitores em 7 de outubro será um balcão de pratos feitos. Pode-se optar por um indigesto PSDB com Centrão; por uma extrema-direita com data de validade vencida; por um Ciro apimentado; uma Marina que parece uma salada insossa; por uma esquerda com gosto de marmita de carceragem; e assim por diante.
Mas você não teve a chance de montar nenhum desses pratos. Tudo foi decidido por um bando de caciques partidários interessados mais em sua própria sobrevivência do que no resultado da gororoba no estômago do eleitor.
DESEJOS PARA O BRASIL: Democracia aprofundada
A ausência de prévias na América portuguesa é uma das maiores aberrações de nossa democracia. Entregamos literalmente bilhões de recursos públicos para candidatos fazerem campanha: mas não podemos escolher quem sejam esses candidatos.
O suposto nome da social-democracia foi escolhido numa mesa de vinhos tintos; o da esquerda trabalhista, na base do mais puro caudilhismo; o da extrema-direita ninguém esperava que fosse escolhido democraticamente mesmo.
Não se trata de elogios tolos à democracia americana: mas lá, para ser vereador na menor cidade do país, o sujeito tem de antes convencer os filiados a seu partido de que deve concorrer. Se não, está fora.
Aqui, a gente vota nos de sempre, entre outras coisas, porque só eles têm como sair candidatos. Ou você acha que se entrar num partido hoje vai conseguir legenda para alguma coisa?