Os vereadores fazem muitas coisas que não têm valor prático. Na verdade, a maior parte do que se faz na Câmara de Curitiba tem pouco valor prático. Distribuem-se prêmios, dá-se nomes a ruas, criam-se datas comemorativas de que ninguém vai se lembrar no futuro. Mas nem sempre é assim: os vereadores podem servir, por exemplo, como termômetro do que quer a cidade, e do que ela precisa.
Este blog tem feito um acompanhamento, por exemplo, do número de pedidos de tapa-buracos que a Câmara faz ao longo dos meses. Sim, porque esse, embora pouco divulgado, é um método importante para conseguir votos em bairros. Pede-se à prefeitura que tampe as erosões que a chuva e o uso causam na pavimentação.
Não quer dizer que esses pedidos em si tenham resultado prático, pelo contrário. Os vereadores não têm condições de impor, só de pedir. E a prefeitura pode ignorar os pedidos, se quiser. Mas o efeito prático positivo é que se pode medir justamente a falta que o asfalto de qualidade faz nos bairros da cidade. É o que eu tenho chamado aqui de buracômetro.
Pois bem, encerrando o ano, o blog fez o cômputo geral e chegou à conclusão de que os vereadores pediram, pasme, mais de 2 mil operações tapa-buracos. Não significa que há dois mil buracos, mas sim que houve mais de duas mil ruas esburacadas, o que é muito mais grave. Isso representa quase uma em cada quatro ruas da cidade.
Outro fenômeno que chama a atenção é o número crescente de pedidos. Até maio, o número de pedidos ficava frequentemente abaixo de 100. Talvez os vereadores novos tenham demorado a se atinar à possibilidade de fazer os pedidos. Agora, a média tem ficado em cerca de 250 pedidos por mês: mil a cada quadrimestre.
As consultas públicas para o orçamento mostraram, segundo a própria prefeitura, que o pedido de pavimentação é a maior demanda da cidade, junto com melhorias em saúde e segurança. Em julho, depois de uma chuvarada, a administração pública também informou que precisou tapar buracos em 211 ruas em apenas uma semana.
Atualmente, segundo a prefeitura, há 29 equipes de tapa-buracos trabalhando na cidade. São R$ 2,4 milhões por ano. “A malha viária da cidade é de 4.600 quilômetros, dos quais 1.700 quilômetros são de antipó, com mais de 30 anos de uso”, explica texto do site oficial. Segundo a prefeitura, há um plano de pavimentação para substituir 330 quilômetros de antipó por asfalto.